Marcel Duchamp, La partida de ajedrez, 1910 |
Poder-se-ia começar com uma fenomenologia do esquecimento, com a descrição do fenómeno nas suas múltiplas manifestações, mas seria uma perda de tempo. Elabore-se de imediato uma taxionomia. Temos os esquecimentos passivos e os activos. Os passivos são aqueles que sofremos contra a nossa vontade. As coisas apagam-se ou, no melhor dos casos, ocultam-se, sem que haja uma intervenção da nossa parte. Quando a amnésia é activa não se pense, porém, que existe uma deliberação para esquecer alguma coisa. Isso não funcionaria. Pelo contrário, qualquer deliberação em vez de conduzir ao esquecimento levaria a uma inflação da memória. O esquecimento activo resulta de uma imersão de tal modo intensa numa certa actividade que o resto desaparece do campo de consciência. Os jogadores de Xadrez estão tão presos ao combate que travam que o próprio amor é abandonado na orla do campo de batalha. O esquecimento passivo dá-nos uma visão do nosso ser biológico, o activo mostra as prioridades que orientam uma vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.