sexta-feira, 5 de maio de 2023

Cardílio (24 sonetos) 13

Imagem obtida através de IA DALL.E 2 da OpenAI

Quando os archotes ébrios, os teus dedos,

Incendiaram na noite a branca cólera,

Gritaste no silêncio desvairado,

No tormento das horas esquecidas.

 

No teu jardim, as rosas enrugaram.

Os dias aos dias seguiram imperfeitos,

Estátuas dum deus enlouquecido,

Preso em polida pedra calcinada.

 

Não há mãos pelos seios, nem alegria

No súbito cantar. Apenas mágoas

Te recolhem na fístula da tarde.

 

Aí, na flâmula acesa, transfigura-se

Em murmúrio a voz que em ti vacila,

Luz que a noite ao dia sempre roubou.


2007

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