segunda-feira, 15 de maio de 2023

Cardílio (24 sonetos) 14

Anónimo romano, Cabeça de uma bacante, bêbada e assustada, Vila dos Mistério (Pompeia)

Sinto o vento no rosto e na mão trago
Um trevo iluminado pelo sangue
Que do teu corpo ávido então cai,
Como um cão que cantasse em Setembro.

Que frio aroma férvido é o teu?
O perfume do azeite, o verde mênstruo
Em meu olhar se prende, flor de pétalas
Sôfregas ou roseira amarga e lúgubre.

Penumbra em que repousas a cabeça,
Véu de branda loucura, lua deserta
Onde escondo o fantasma que me habita.

Na treva dos teus passos, eu te sigo,
Cansado de sonhar deuses, esferas,
Sombras de vento ou cálices de pólen.

2007

 

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