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Não fora conhecer o que a casa gasta, ter-me-ia espantado. Ouvi e vi o discurso do Presidente da República e ouvi uma série de comentários. Quem ouvisse os comentadores ficaria convencido de que o Presidente tinha trucidado António Costa, o governo, para além, claro, do ministro Galamba. Uns comentadores – e jornalistas – proclamavam um discurso forte, terrível. Outros abanavam a cabeça em assentimento. Não me espantei, porque descobri há muito que estas pessoas confundem a realidade com os seus desejos. Foi o discurso do Presidente um discurso de força?
Não. Foi um discurso de fraqueza. Lamentou, ralhou, ameaçou. Ora, quem tem força não ralha nem ameaça. Faz, age. Não protela. Responde na hora. Quem espera o momento oportuno, está calado. O discurso do Presidente foi o reconhecimento da posição de fraqueza a que se viu reduzido pela acção do Primeiro-Ministro, uma intervenção para salvar a face. Ora, se António Costa o fez perder a face foi por sua culpa, porque não soube gerir a palavra. Se estivesse calado acerca do ministro Galamba, este teria ido embora. Nenhum primeiro-ministro pode permitir o contínuo imiscuir, em jeito de comentário televisivo ou de ameaça, de um Presidente.
A fraqueza, porém, não fica por aqui. A ameaça de ser mais exigente com o governo é absurda. Será que até aqui não era exigente, não cumpria a sua função? Se sim, qual a diferença? Vai criar instabilidade? Os comentadores, a grande maioria afecta à direita, acham que António Costa vai ser cozinhado em lume brando. Há nesta ideia um equívoco. O Presidente há muito que, com sorrisos, papas e bolos, estava a cozinhar o Primeiro-Ministro em lume brando. A recusa de António Costa de demitir Galamba foi um salto para fora do caldeirão onde o Presidente o estava a cozer.
As coisas mudaram, mas não no sentido que os comentadores, mais ou menos entusiastas, afirmam. António Costa está mais forte. Marcelo Rebelo de Sousa mais fraco. A partir deste momento, António Costa tem a iniciativa. Isso não garante que não se afunde. Garante apenas que é responsável pelo destino do governo. Se as coisas correrem bem, será mérito dele. Se correrem mal, será culpa sua. Isso, porém, foi o que ele veio dizer aos portugueses. Que toda a responsabilidade pela governação assentava nos seus ombros. E isso é um discurso forte, não a arenga admoestadora do Presidente.
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