Hume responde peremptoriamente que a questão da boa ou da má governação não é, em última análise, relevante. Contudo, tem necessidade de fazer uma separação entre regimes absolutos e regimes republicanos e livres. Em regimes absolutos, onde há uma concentração do poder, por exemplo na figura de um monarca, a qualidade da governação e os efeitos no bem público derivam da administração, isto é, da qualidade daquele que ocupa o poder. Numa monarquia hereditária absoluta, a boa governação dependeria do acaso. Contudo, para Hume, o mesmo não se deverá passar numa república livre. Se acontece uma má governação neste tipo de regime, isso dever-se-á à própria constituição que não foi concebida de forma competente e honesta. Toda a boa constituição tem o dever de prever os desvios à boa governação e estar de tal modo organizada que leve mesmo aquele que é mau a governar a favor do bem público.
Onde se insere
a questão da cientificidade da política? Na capacidade que há de deduzir os
efeitos tanto para o presente como para o futuro a partir das normas e
instituições que regem uma comunidade política, as quais funcionam como causa.
O carácter do governante é irrelevante. Se as normas e as instituições forem
boas, ele será coagido a governar para o bem comum. Caso não o sejam, o futuro
do regime será a anarquia, a que se seguirá a tirania. É por isso que a herança
mais valiosa que se pode deixar para o futuro é uma sábia legislação, aquela
que permite a boa governação, independentemente do carácter do governante. Em
plena época de afirmação do individualismo, David Hume propõe um caminho
alternativo. A questão central está na qualidade das leis e das instituições e
não no carácter e educação tanto do governante quanto dos governados. São estas que podem ser a causa ou da felicidade ou da infelicidade de um povo.
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