Louis Mathieu Verdilhan, Saint-Gilles-du-Gard |
Ergue-se
a água na sombra da fortaleza,
o
trabalho da pedra escrito pela tenaz do tempo.
Ouve-se
a revolta das ondas,
enquanto
homens presos à lentidão do leme
navegam
em barcos de sombra
um
mar maldoso,
sobrevoado
pela supuração das gaivotas,
os
dias gretados de Agosto.
Um
oceano idiomático cresce no centro da Terra,
expande-se
contra o horizonte azul,
as
terras dobradas à lavoura do esquecimento,
os
dias vergados ao fluir das ondas.
Vozes
rompem a barreira do som,
são
peixes a vibrar no cordame das redes,
mulheres
de pele estriada, cestos de sal à cabeça,
vidas
subtraídas ao dedo de Deus,
presas
no anzol dançante da morte.
Sobre
a mancha das marés, ergue-se a memória,
o
vento no regaço das velas,
um
livro escrito no olhar dos mortos.
Os
dias marítimos são noites nos olhos cegos,
nas
mãos queimadas pela geometria das redes.
Uma
sirene sulca a sangria da tarde,
os
barcos chegam carregados de ócio e sombras,
rasgados
pelo ritmo arcaico da fome.
Maio de 1993
[Conjunto de três poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
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