Havia sinais de que esta crença poderia ser ilusória. A revolução iraniana de 1979 derrubou uma monarquia autocrática e substituiu-a por um regime teocrático, muito longe daquilo que os ocidentais consideravam o melhor regime. Outro exemplo é o da modernização, por Deng Xiao Ping, da China pós-maoista. Teve um resultado espantoso, mas não aproximou a China um milímetro que fosse de um regime político que os ocidentais considerassem como o bom regime político. Estes dois exemplos, de uma luz cintilante, não foram lidos devidamente neste lado do planeta, onde se vivia ainda a grande bebedeira gerada pela queda do comunismo e a transição da generalidade dos países sob tutela soviética para democracias liberais. Hoje, quando se olha para o que se passa na Ucrânia, pode-se pensar que os ocidentais tinham entrado em coma alcoólico.
As crenças
ocidentais sobre o melhor regime estão a ser desafiadas uma a uma. As
democracias liberais enfraquecem, tornando-se iliberais ou mesmo estados
autoritários. O Estado de Direito está a ser posto em causa mesmo em alguns
países da União Europeia (UE). Nessa mesma UE, os eleitorados abraçam cada vez
mais soluções antiliberais e actores políticos desdenhosos do Estado de
Direito. Por fim, a própria noção de soberania popular, herdada das teorias
contratualistas modernas e da vontade geral de Rousseau, fundamento último dos
nossos regimes, está a ser desafiada do ponto de vista intelectual por teóricos
ligados à direita radical e à extrema-direita. Aquilo que considerámos o bom
regime político, cuja fundamentação não precisaria de defesa, deixou de ser
claro para muitos eleitores. Vivemos num tempo em que se tornou essencial
tornar a mostrar por que razão “a democracia é o pior dos regimes, exceptuando
todos os outros”, para citar uma frase atribuída a Churchill e que talvez ele
nunca tenha proferido.
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