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Almada Negreiros, Porta da harmonia, 1957 |
sábado, 12 de julho de 2025
Comentários (31)
quinta-feira, 10 de julho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (18)
terça-feira, 8 de julho de 2025
Nocturnos 130
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Peter von Hess, Nächtliche Rast in einem Kirchdorf (Städel Museum, Frankfurt am Main) |
domingo, 6 de julho de 2025
Comentários (30)
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Wassily Kandinsky, Street in Murnau with Women, 1908 |
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais
O que leva as pessoas, segundo o autor, a ser de direita ou
de esquerda são intuições morais. A moralidade terá, no mínimo, seis
fundamentos diferentes, que se organizam em pares de opostos: cuidado/dano,
justiça/engano, lealdade/traição, autoridade/subversão, santidade/degradação e
liberdade/opressão. São estes aspectos que, intuitivamente, as pessoas usam
para fazerem juízos morais e para codificarem a sua posição política. As
pessoas de esquerda baseiam a sua moralidade, fundamentalmente, nas ideias de Cuidado
e de Justiça. As pessoas de direita apresentam um espectro moral mais alargado,
onde a Lealdade, a Autoridade e a Santidade (certas coisas são consideradas
sagradas e intocáveis) têm um papel preponderante. Pessoas de esquerda e de
direita valorizam a Justiça e a Liberdade, mas interpretam-nas de modo
diferente. As pessoas discordam politicamente porque preferem inconscientemente
sabores morais diferentes.
As ideias de Haidt são úteis para pensar como devem agir as
lideranças políticas. Uma possibilidade é concentrarem-se apenas nos
fundamentos morais da sua tribo política: a esquerda valoriza o cuidado e a
justiça igualitária; a direita, a lealdade ao grupo, a autoridade e a
sacralidade de certas instituições. Este caminho conduz à polarização, a
guerras culturais – que são, afinal, conflitos morais. Líderes responsáveis, de
ambos os lados, devem procurar estabelecer pontes com quem tem gostos morais
diferentes. Ser político é mais do que ser de esquerda ou de direita. É, sem
negar a sua preferência de sabores morais, procurar laços com os outros, porque
a política visa o bem comum. A democracia não é a vitória total de um lado e a
derrota do outro, mas a alternância de sabores e o respeito por quem tem gostos
diferentes. Ora sabe mais a sal, ora mais a pimenta. O essencial é a qualidade
do alimento: a governação de uma comunidade que se pretende unida na
diversidade.
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Militares e a doença da democracia
Qualquer cidadão – incluindo os militares, desde que não
estejam no activo – tem o pleno direito de se candidatar. Gouveia e Melo, o
almirante candidato, e Isidro Morais Pereira, o major-general putativo
candidato, estão no pleno direito, enquanto cidadãos, de serem candidatos à
Presidência da República. O problema é que não se conhece, em nenhum deles,
qualquer competência política. Têm uma completa virgindade política, uma
inocência completa perante os dilemas que a gestão política coloca a quem ocupa
a Presidência. São conhecidos do público: um, o almirante, pela boa gestão da
distribuição e aplicação dos stocks de vacinas; o outro, pelo comentário
militar na televisão. Podem ter currículos militares brilhantes, podem ser bons
gestores de armazéns ou analistas militares, mas nada disso nos diz seja o que
for sobre como vão lidar com um mundo em que o Presidente da República tem
menos poderes que um almirante ou um general no seu ramo das Forças Armadas.
Se a candidatura de um ou dois militares, sem preparação
política, é já um sintoma forte da doença da democracia portuguesa, aquilo que
torna apetecíveis as suas candidaturas é decisivo para um diagnóstico dessa
doença. A sua real vantagem eleitoral é não serem políticos, nada saberem
daquilo a que se candidatam. Parte dos portugueses tem um problema com os
políticos. As pessoas pensam que não vivem tão bem quanto desejam por culpa dos
políticos. Os fracassos sociais e existenciais de cada um não são sua culpa,
mas dos políticos, transformados em bodes expiatórios. A solução é escolher não
políticos para os cargos que exigem políticos preparados. Isto é uma doença
porquê? Por dois motivos: em primeiro lugar, porque as pessoas continuam a
acreditar que têm de ser os outros – os políticos – a tratar da sua vida; em
segundo, porque essa crença leva a escolhas pouco razoáveis de pessoas sem
qualquer preparação para cargos altamente exigentes.
segunda-feira, 30 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (17)
sábado, 28 de junho de 2025
Beatitudes (81) No jardim
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Constant Puyo, Au Jardin, 1902 |
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Simulacros e simulações (74)
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Georgia O'keeffe, Black and Purple Petunias, 1925 |
terça-feira, 24 de junho de 2025
A persistência da memória (31)
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Theodor and Oskar Hofmeister, Apfelernte, 1898 |
segunda-feira, 23 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (16)
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Ana Marchand, sem título, 2000 (Gulbenkian) |
Morre pássaro insolente,
ave esquiva de asas tecidas
pela mão que escreve.
Morre, morre, aí mesmo
onde a noiva perdida
abriu o segredo sobre o altar.
Morre em teu voo nupcial,
ao som das folhas do plátano,
perdido no ouro do Outono.
[1993]
sábado, 21 de junho de 2025
Ensaio sobre a luz (129)
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Fernando Lemos, Jardim, 1949 (Gulbenkian) |
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Avatares, Influencers e Seguidores
O avatar é usado para manter o anonimato e esconder o rosto
da pessoas por uma imagem simbólica. O rosto, segundo o ensinamento do filósofo
Emmanuel Lévinas, não é apenas um conjunto de traços físicos, a composição de
uma figura determinada pela lotaria genética e a interacção com o meio. O rosto
do outro é manifestação de uma diferença
absoluta em relação a mim. É uma presença que me interpela e questiona. Mas
também é a revelação de uma vulnerabilidade. Contudo, é essa vulnerabilidade
que traz com ela um apelo dramático: não matarás! Quando se esconde o rosto
através de um avatar, esconde-se a vulnerabilidade, mas também a injunção: não
matarás! A qual está nos alicerces da nossa sociabilidade.
Se o Iluminismo nos trouxe alguma coisa de fundamental, foi
não apenas o reconhecimento de que somos seres racionais, mas que isso tem
consequências no campo moral e político. Seres racionais pensam por si próprios
– mesmo quando se colocam no lugar do outro. Esse pensar por si é a marca da
autonomia e da dignidade humana. O par influencers – seguidores é a
subversão da ideia iluminista da autonomia da pessoa. O seguidor submete a sua
opinião à opinião do influencer, aliena a sua autonomia de pensamento e
com ela a dignidade que deve ser a essência de um ser dotado de razão.
Nada disto é inócuo. Nem a praga dos avatares, nem
epidemia de influencers com os seus rebanhos de seguidores.
Exploram a fragilidade humana, desarticulam o respeito pelas instituições da
vida comum, abrem brechas na sociabilidade que permite vivermos uns com os
outros. Os regimes democrático-liberais fundam-se no respeito que o rosto do
outro me exige e na concepção de que temos uma dignidade porque somos seres que
conseguem pensar por si mesmos. São estes pilares que estão a ser,
visivelmente, corroídos. Uma situação para a qual, as democracias parecem não saber
como lidar com ela.
terça-feira, 17 de junho de 2025
Alma Pátria 72: José Afonso, Balada de Outono
domingo, 15 de junho de 2025
Prosa dos dias (33) Ridículo
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Ilse Bing, Cancan Dancers, Moulin Rouge, 1931 |
sexta-feira, 13 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (15)
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Máximas (25)
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Uma grave cegueira
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Diego Rivera, Las Ilusiones, 1944 |
sábado, 7 de junho de 2025
Encontros
Outro encontro inesperado foi dos jovens rapazes com a sua
masculinidade. Encontraram-na na cabine de voto. É de homem, pensaram ao pôr a
cruz. O mundo tornou-se um lugar difícil para muitos jovens do sexo masculino.
A escola é uma coisa boa para encontrar amigos, mas estudar é uma chatice.
Coisa de meninas. E as meninas assim o fazem. Ocupam o topo dos resultados e
entram nas faculdades que pretendem, para cursos que dão rendimentos
interessantes, e em que cada vez menos rapazes entram. Uma masculinidade ferida
pelas exigências escolares encontra a sua redenção na cruz do voto. O salvador
irá pôr as mulheres no sítio, abolir a necessidade do esforço escolar e dar aos
homens aquilo a que têm direito.
Outro encontro feliz foi o do eleitor atormentado com a
presença de imigrantes. Foi à cabine de voto para se desencontrar com eles e
encontrar-se consigo. Pouco lhe interessa que sejam o trabalho e as
contribuições desses imigrantes que lhe permitirão ter uma reforma, quando
chegar o dia. Imigrantes, coisa horrível, tornam feia a paisagem humana da
pátria, uma poluição visual. Mais vale morrer de fome aos 70 anos, do que
suportar estas pessoas a fazerem aquilo que os portugueses não querem fazer,
contribuir para que a economia não se afunde e a Segurança Social não colapse.
De súbito, o eleitor atormentado descobriu a sua vocação: mártir em nome da
pureza da raça.
Todo o resto, nas eleições de 18 de Maio, foram
desencontros. Os partidos de esquerda desencontram-se com o seu eleitorado,
quem sabe se num divórcio irremediável. A Iniciativa Liberal e o Livre subiram,
mas desencontraram-se com os seus objectivos: a potência foi menor que o
desejo. Até a AD de Luís Montenegro, apesar da vitória e do crescimento, se
desencontrou com uma maioria que lhe permitisse fazer o que lhe vai na alma. Os
portugueses – parte substancial, não se generalize – parecem muito animados e desejosos
de ver o país mergulhado na confusão. E como se sabe, não há melhor lugar para
encontros do que a confusão.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Comentários (29)
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Pablo Picasso, The Bottle of Wine, 1925-1926 |
terça-feira, 3 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (14)
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Teresa Magalhães, sem título, 1981 (Gulbenkian) |
Se o dia cai
em teus olhos,
um augúrio
de água
ergue-se
na voz
lêveda do mar.
[1993]
domingo, 1 de junho de 2025
Por detrás dos resultados eleitorais
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Nocturnos 129
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Partido Socialista - uma pulsão de morte
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Jean-Michel Basquiat, Riding with Dead, 1988 |
segunda-feira, 26 de maio de 2025
Simulacros e simulações (73)
sábado, 24 de maio de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (13)
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Beatitudes (80) Poente
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William Gordon Shields, Sunset on New York Bay, 1915-20 |
terça-feira, 20 de maio de 2025
Abandonados pelo voto popular
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Camille Pissarro, Fiesta en la ermita, 1878 |
Um dos dados mais importantes das eleições de domingo foi o
abandono da esquerda pelo voto popular. Os resultados são aterradores para os
partidos tradicionais de esquerda. Não apenas porque, no conjunto, estão
reduzidos no número de deputados – 68 em 230, mas porque o eleitorado que os
abandonou muito dificilmente retornará. Parte substancial do eleitorado do
Chega (isto já tinha acontecido nas eleições do ano passado) vem da esquerda.
São pessoas que estão revoltadas com a sua situação social e cansaram-se tanto
do reformismo socialista como da retórica revolucionária do Partido Comunista e
do Bloco de Esquerda.
Não querem saber de transformações colectivas, nem da luta
dos trabalhadores ou das minorias. O centro do seu interesse político é a sua
vida. Votaram no partido que imaginam dar corpo à sua revolta. É uma esperança
do desespero. Imaginaram, durante muito tempo, que seria a política de esquerda
que levaria o Estado a resolver os seus problemas. Como o Estado é impotente
para o fazer, pois cada um depende de si mesmo, mudaram não o modo de pensar,
mas o sentido de voto. Tornam a imaginar que um partido ou o seu líder lhes resolverá
o problema. É uma ilusão que levará tempo a ser desfeita.
domingo, 18 de maio de 2025
Falando de democracia
O filósofo norte-americano David Estlund, numa resposta à ideia de um regime epistocrático (um regime onde o governo estaria na mão dos sábios), argumenta que a participação colectiva produz, tendencialmente, melhores resultados do que uma governação de peritos isolados. Há em Estlund uma aposta razoável na competência da comunidade em fazer escolhas. Contudo, esta aposta tem um problema. Ela é, na verdade, baseada numa apreciação empírica das democracias. Não há uma relação necessária – e a priori – entre decisão colectiva e boa decisão. Podemos mesmo estar a entrar numa fase em que, devido à grande complexidade da vida social, as comunidades, movidas pelo sentimento, a emoção e o ressentimento, façam escolhas péssimas. Os primeiros tempos da nova administração Trump parecem dar argumentos a esta visão. Assiste-se, nos dias de hoje, a verdadeiros testes a essa sabedoria colectiva. E não é líquido que ela tenha nota positiva.
sexta-feira, 16 de maio de 2025
Um novo Papa
O Sumo Pontífice não é apenas o sucessor de Pedro. Este,
além de uma pessoa, é uma função. Por isso, qualquer Papa é, de novo, Pedro, a
pedra sobre a qual o Cristo edifica a sua Igreja. Se olharmos para os textos
evangélicos, encontramos dois episódios centrais para compreender esta função
entregue a um ser humano. Em primeiro lugar, o reconhecimento. A função petrina
é instaurada após a pergunta de Cristo: Quem dizeis vós que Eu sou? E
Simão Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. Contudo, a interpretação
deste episódio não pode ser desligada da leitura de um outro: o da tripla
negação de Cristo por Simão Pedro, na noite em que Jesus foi preso pelos
poderes deste mundo e a sua Paixão era iminente. Qualquer Papa vive na tensão
entre o reconhecimento de Cristo e a negação desse reconhecimento perante o
perigo. Essa negação é, na verdade, a condescendência submissa aos poderes
deste mundo.
As tentações conservadoras e progressistas dos Papas são as
três negações de Pedro, no mundo moderno, perante a proximidade da Paixão do
Mestre. São a cedência aos poderes do mundo, às suas paixões políticas e ao
temor perante o significado da Paixão crística. Isto não torna os Papas
heréticos. Mostra-os, à semelhança de Pedro, como homens frágeis perante um
acontecimento que ultrapassa a compreensão humana. A função papal inclui, deste
modo, o reconhecimento de Cristo como Filho de Deus, mas também a negação de
que se pertence ao seu mundo. João Paulo II é louvado pela sua luta contra o
comunismo; Francisco, pela sua denúncia da injustiça social. Ora, em ambos os
casos, isso constitui a fraqueza perante a Paixão eterna do Filho de Deus. É a
sua negação. Contudo, esta negação não ofusca o essencial: a resposta à
pergunta Quem dizeis vós que Eu sou? Na economia da crença católica, o
Papa é o que diz: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.
quarta-feira, 14 de maio de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (12)
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Simulacros e simulações (73)
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Eduardo Anahory, sem título, 1983 (Gulbenkian) |
sábado, 10 de maio de 2025
Prosa dos dias (32) Coroação
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Hans Baumgartner, Der Milchmann. Zürich, 1938 |
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Um novo Papa
terça-feira, 6 de maio de 2025
Faça a sua enciclopédia
domingo, 4 de maio de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (11)
sexta-feira, 2 de maio de 2025
Educação e Inteligência Artificial
Qual é o
solo a partir do qual pode florescer a inteligência crítica, qual é a terra que
é preciso não descurar na educação, para que a planta se desenvolva e floresça?
Esse solo são as velhas competências da memória e da sistematização da
informação (a sua classificação e organização). Se esse solo não for cuidado,
toda a semente lançada nele morrerá. Isto não significa que métodos arcaicos de
ensino sejam a solução. Significa outra coisa: é necessário que os responsáveis
pela educação e os professores encontrem a melhor maneira de trabalhar o
desenvolvimento dessas competências básicas. O importante não é se a
metodologia é nova ou tradicional, mas que funcione, que conduza os alunos a
fortalecer os processos ligados à memória e à sistematização.
Se a
informação sistematizada pela IA se encontra à distância de um prompt (a
questão posta ou tarefa pedida à IA), as novas gerações necessitam de
desenvolver, para além das competências tradicionais, outras bem mais complexas.
Precisam de aprender a interrogar a IA, de cultivar competências
lógico-matemáticas e de avaliação crítica da informação gerada, bem como de
fomentar a capacidade de articular dados para resolver problemas práticos ou
cognitivos. Precisam de ser activos na relação com a IA e não receptores
passivos — caminho certo para a estupidificação. O novo ambiente gerado pela IA
não vem substituir o esforço dos alunos. Vem exigir mais esforço no
desenvolvimento das competências básicas e no das mais elevadas. Ambas têm de
ser mais sólidas. O caminho será compatibilizar o desenvolvimento das
competências básicas da memória e da sistematização com as mais exigentes do
pensamento crítico e reflexivo. A IA não veio trazer o descanso, mas um esforço
mais complexo e profundo na aprendizagem. Só sobreviverá quem se tornar mais
inteligente, não menos.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Cadernos do esquecimento 56 Gramática
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Fred Kradolfer, sem título, 1930 (Gulbenkian) |