O Sumo Pontífice não é apenas o sucessor de Pedro. Este,
além de uma pessoa, é uma função. Por isso, qualquer Papa é, de novo, Pedro, a
pedra sobre a qual o Cristo edifica a sua Igreja. Se olharmos para os textos
evangélicos, encontramos dois episódios centrais para compreender esta função
entregue a um ser humano. Em primeiro lugar, o reconhecimento. A função petrina
é instaurada após a pergunta de Cristo: Quem dizeis vós que Eu sou? E
Simão Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. Contudo, a interpretação
deste episódio não pode ser desligada da leitura de um outro: o da tripla
negação de Cristo por Simão Pedro, na noite em que Jesus foi preso pelos
poderes deste mundo e a sua Paixão era iminente. Qualquer Papa vive na tensão
entre o reconhecimento de Cristo e a negação desse reconhecimento perante o
perigo. Essa negação é, na verdade, a condescendência submissa aos poderes
deste mundo.
As tentações conservadoras e progressistas dos Papas são as
três negações de Pedro, no mundo moderno, perante a proximidade da Paixão do
Mestre. São a cedência aos poderes do mundo, às suas paixões políticas e ao
temor perante o significado da Paixão crística. Isto não torna os Papas
heréticos. Mostra-os, à semelhança de Pedro, como homens frágeis perante um
acontecimento que ultrapassa a compreensão humana. A função papal inclui, deste
modo, o reconhecimento de Cristo como Filho de Deus, mas também a negação de
que se pertence ao seu mundo. João Paulo II é louvado pela sua luta contra o
comunismo; Francisco, pela sua denúncia da injustiça social. Ora, em ambos os
casos, isso constitui a fraqueza perante a Paixão eterna do Filho de Deus. É a
sua negação. Contudo, esta negação não ofusca o essencial: a resposta à
pergunta Quem dizeis vós que Eu sou? Na economia da crença católica, o
Papa é o que diz: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.
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