sexta-feira, 2 de maio de 2025

Educação e Inteligência Artificial


 A democratização do uso da inteligência artificial (IA) é o maior desafio dos últimos 2 600 anos — época em que emergiu a filosofia — colocado aos processos formais de educação das novas gerações. Como deve evoluir o ensino num mundo em que a IA pode fornecer sistematizações rápidas e profundas de informação? Corremos um risco: o recurso passivo à IA pode impedir que as novas gerações desenvolvam um conjunto de competências intelectuais importantes e que isso traga uma paradoxal diminuição da inteligência na espécie. Como deve evoluir o ensino para que a espécie se adapte ao novo ambiente? Que lugar devem ter os tradicionais exercícios de memorização e de sistematização? Que lugar deve ter o desenvolvimento, desde muito cedo, das capacidades de interrogação crítica, avaliação reflexiva e redescrição criativa da informação?

Qual é o solo a partir do qual pode florescer a inteligência crítica, qual é a terra que é preciso não descurar na educação, para que a planta se desenvolva e floresça? Esse solo são as velhas competências da memória e da sistematização da informação (a sua classificação e organização). Se esse solo não for cuidado, toda a semente lançada nele morrerá. Isto não significa que métodos arcaicos de ensino sejam a solução. Significa outra coisa: é necessário que os responsáveis pela educação e os professores encontrem a melhor maneira de trabalhar o desenvolvimento dessas competências básicas. O importante não é se a metodologia é nova ou tradicional, mas que funcione, que conduza os alunos a fortalecer os processos ligados à memória e à sistematização.

Se a informação sistematizada pela IA se encontra à distância de um prompt (a questão posta ou tarefa pedida à IA), as novas gerações necessitam de desenvolver, para além das competências tradicionais, outras bem mais complexas. Precisam de aprender a interrogar a IA, de cultivar competências lógico-matemáticas e de avaliação crítica da informação gerada, bem como de fomentar a capacidade de articular dados para resolver problemas práticos ou cognitivos. Precisam de ser activos na relação com a IA e não receptores passivos — caminho certo para a estupidificação. O novo ambiente gerado pela IA não vem substituir o esforço dos alunos. Vem exigir mais esforço no desenvolvimento das competências básicas e no das mais elevadas. Ambas têm de ser mais sólidas. O caminho será compatibilizar o desenvolvimento das competências básicas da memória e da sistematização com as mais exigentes do pensamento crítico e reflexivo. A IA não veio trazer o descanso, mas um esforço mais complexo e profundo na aprendizagem. Só sobreviverá quem se tornar mais inteligente, não menos.

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