segunda-feira, 7 de abril de 2025

A Europa e os Estados-Nação

Numa conferência em Praga, proferida em Dezembro de 2018, o historiador norte-americano Timothy Snyder propõe uma visão da construção europeia em contracorrente com o discurso oficial. Este sublinha a emergência do projecto europeu como resposta aos conflitos intra-europeus, às duas guerras mundiais. Visaria pacificar a persistente discórdia entre Alemanha e França. O projecto europeu seria assim um desígnio voluntarista, quase um acto de benevolência, em que um conjunto, que se foi alargando, de Estados-Nação abdicou de parte da sua soberania a favor desse propósito de uma comunidade pacífica, civilizada e democrática. Snyder, porém, diz – e esse é um dos seus pontos fortes – que a premissa está errada. Esses Estado-Nação não existiam, o que existia eram impérios coloniais que perderam as suas colónias.

O projecto europeu é uma necessidade existencial para os Estados desses ex-impérios, onde se incluiu o português, que integram o projecto. Mais do que uma abdicação da soberania de Estados nacionais para as instituições europeias, o que se passa é outra coisa: é a União Europeia (UE) que assegura e torna possível a existência desses Estados. Sem ela, a existência desses Estados ficaria perigosamente comprometida. Sem a Europa, esses Estados estão condenados à irrelevância, mesmo ao desaparecimento. E isso percebe-se. Basta olhar para os grandes actores mundiais – EUA, China, Rússia, Índia – para compreender que mesmo os maiores países europeus, se isolados, não têm qualquer possibilidade de fazer parte do jogo político mundial, aquele onde se decide a vida do cidadão comum.

Se a visão de Snyder for correcta, e ela parece sólida, o crescimento, nos diversos países europeus, das forças nacionalistas, soberanistas e anti europeias é uma pulsão de morte. De morte, não apenas do projecto europeu, mas dos próprios Estados europeus, que existem ancorados na União. As dificuldades que a Inglaterra tem enfrentado desde o Brexit são um sintoma de que a visão de Snyder está correcta. Os europeus – em que só 50% se mostram agradados com a UE – parecem inclinados para essa autodestruição, muito desejada pela Rússia e, agora, pelas hordas MAGA capitaneadas por Trump, Musk e Vance. Se o projecto europeu resulta de uma necessidade existencial dos Estados que o compõem, então a sua destruição é, também, a destruição desses Estados. E é isto que as elites políticas europeias deveriam explicar muito claramente aos seus cidadãos. Esclarecer que o caminho mais rápido para destruição das nações é o nacionalismo levado ao extremo.

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