domingo, 8 de fevereiro de 2015

Arrogância e infantilidade

Julio Gómez Biedma - Poder

Com a vitória do Syriza, um conjunto de comentadores nacionais não se coibiu de demonstrar não apenas a arrogância – Fátima Bonifácio não se evitou sequer falar da putativa filáucia do actual ministro grego da economia – como ainda a profunda infantilidade dos actuais governantes gregos. Não me interessa se os novos governantes da Grécia são arrogantes e infantis. Talvez sejam. O que me interessa, porém, é que este grupo de comentadores, sempre tão irado contra a esquerda, nunca se questiona sobre a natureza moral da ordem do mundo. Este silêncio é revelador. Eu não sei se a esquerda tem boas soluções para o mundo. Sei, contudo, uma coisa. Sei que a ordem moral do mundo é inaceitável. Sei que as políticas que têm sido seguidas desde a revolução Reagan-Thatcher tornaram, através de decisões que visam proteger os privilégios dos mais ricos, muito maior o fosso entre ricos e pobres. E isso é, na minha óptica, imoral. O que todo esse conjunto de comentadores faz é suportar a imoralidade em vigor, salientando que qualquer tentativa de romper com o actual estado de coisas é ridículo, não passando de um projecto de tresloucados e fanáticos, desligados da realidade. A única coisa que, para eles, não é tresloucada é que os ricos se tornem cada vez mais ricos, que as classes médias se extingam, que a pobreza cresça, mesmo que haja muito mais riqueza. Estes comentadores estão sempre muito exaltados com os desvarios da esquerda, mas nunca se interrogam se é moralmente aceitável que tão poucos possuam tanto, enquanto cresce o exército dos pobres e desapossados. Nunca se interrogam sobre a moralidade daquilo que defendem. Para eles, é moral aquilo que os poderosos impõem. O resto é arrogância e infantilidade. Enfim.

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