Julio Gómez Biedma - Poder
Com a vitória do Syriza, um conjunto de comentadores nacionais não se
coibiu de demonstrar não apenas a arrogância – Fátima Bonifácio não se evitou sequer falar da putativa filáucia do actual ministro grego da economia – como ainda
a profunda infantilidade dos actuais governantes gregos. Não me interessa se os
novos governantes da Grécia são arrogantes e infantis. Talvez sejam. O que me
interessa, porém, é que este grupo de comentadores, sempre tão irado contra a
esquerda, nunca se questiona sobre a natureza moral da ordem do mundo. Este
silêncio é revelador. Eu não sei se a esquerda tem boas soluções para o mundo.
Sei, contudo, uma coisa. Sei que a ordem moral do mundo é inaceitável. Sei que
as políticas que têm sido seguidas desde a revolução Reagan-Thatcher tornaram,
através de decisões que visam proteger os privilégios dos mais
ricos, muito maior o fosso entre ricos e pobres. E isso é, na minha óptica,
imoral. O que todo esse conjunto de comentadores faz é suportar a imoralidade
em vigor, salientando que qualquer tentativa de romper com o actual estado de
coisas é ridículo, não passando de um projecto de tresloucados e fanáticos, desligados da realidade. A
única coisa que, para eles, não é tresloucada é que os ricos se tornem cada vez mais ricos,
que as classes médias se extingam, que a pobreza cresça, mesmo que haja muito
mais riqueza. Estes comentadores estão sempre muito exaltados com os desvarios
da esquerda, mas nunca se interrogam se é moralmente aceitável que tão poucos possuam tanto,
enquanto cresce o exército dos pobres e desapossados. Nunca se interrogam sobre
a moralidade daquilo que defendem. Para eles, é moral aquilo que os poderosos
impõem. O resto é arrogância e infantilidade. Enfim.
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