A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Vítor Bento publicou no Observador
um importante ensaio sobre o ajustamento imposto aos países da Europa do sul. Quem é Vítor Bento? É um respeitado
economista, muito próximo de Cavaco Silva e do actual governo. O ensaio publicado
desmente pura e simplesmente, com análise económica fundamentada, toda a
história que o governo e a União Europeia nos andaram a impingir. Cito: “Esta
forma de ajustamento tem, portanto, envolvido uma efectiva transferência de
bem-estar social (incluindo emprego) dos Deficitários [onde se encontra
Portugal] para os Excedentários [onde está a Alemanha]. E aqui reside a
grande falha da argumentação moral que tem subjazido à condução do processo,
pois que não são os Excedentários que têm estado a sustentar o bem estar dos
Deficitários, mas o contrário.” Dito de outra maneira, e ao contrário do que
tem sido propagandeado pelos adeptos do governo: não são os países pobres do sul
da Europa, entre eles Portugal, que têm vivido à custa dos ricos, mas o
contrário.
A Alemanha e outros países ricos têm aproveitado a crise para
beneficiarem as suas elites à custa da pobreza gerada nos países sob
intervenção da troika. Que os países
ricos da Europa se portem assim é compreensível. Os fortes sempre gostaram de
se alimentar do sangue dos fracos. O problema reside na colaboração dos
governantes dos países do Sul com aqueles que espoliam os seus povos, destroem
as suas classes médias, obrigam à venda dos seus recursos, condenam grande
parte da população à miséria. Numa leitura benigna poder-se-ia dizer que os
governantes dos países do Sul sofrem de Síndrome
de Estocolmo, segundo o qual as pessoas submetidas a uma prolongada
intimidação passam a simpatizar com os agressores, identificando-se com eles.
O problema é que os governantes dos países do sul da Europa não foram
intimidados. Se os povos do sul da Europa são vítimas, conforme resulta do
ensaio de Vítor Bento, os seus governantes não o são. Eles quiseram essas
políticas, apostaram na punição dos seus povos e na destruição do Estado
social. Eles aliaram-se aos carrascos, foram ainda mais severos que os próprios
carrascos. O governo português cortou o dobro na Saúde do que tinha sido
imposto pela troika. Em Portugal, o
Serviço Nacional de Saúde foi posto de pantanas, a Educação tornou-se caótica e
parte substancial da Ciência foi liquidada. Tudo por iniciativa do governo
português. Não, os nossos governantes não sofrem de Síndrome de Estocolmo, mas o seu comportamento tem um nome. Sabe o
leitor qual é?
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