Wassily Kandinsky - Acções variadas (1941)
Há dias que a única coisa que apetece fazer é uma espécie de crónicas do lixo. Durante a minha vida não tem faltado lixo na sociedade portuguesa. Os dias de hoje não são mais sujos, apenas o lixo mudou. Por exemplo, a palavra empreendedorismo é puro lixo. Cheira tão mal que dá vómitos. Já cheira pior do que a palavra pedagogia, outro lixo. Agora o empreendedorismo atacou nas escolas e nas universidades, não há cão nem gato que não dê ou receba aulas de empreendedorismo. Mas não será útil educar os portugueses para serem empreendedores? Talvez, mas a questão não está na repetição absurda do vocábulo, a propósito de tudo e de nada, nem está em fazer cursos de empreendedorismo. Este tipo de coisas serve sempre para ocultar a realidade. O problema de Portugal não reside nos portugueses serem pouco empreendedores. Reside na falta de autonomia de muitos dos seus cidadãos e da consequente falta de iniciativa. Construir uma empresa é apenas um caso particular de iniciativa e de afirmação de autonomia pessoal. Educar as pessoas para a autonomia e para a iniciativa não tem nada a ver com cursos de empreendedorismo. É uma disposição das famílias e das instituições de ensino. Cursos de empreendedorismo e a reiteração mágica da palavra empreendedor não passam de uma idiotice inútil. A questão está mais acima. Como tornar as pessoas mais autónomas e com mais poder de iniciativa? Educando-as para a liberdade e para a responsabilidade, dando-lhe desde muito cedo a possibilidade de tomarem decisões e de arcar com a responsabilidade dos seus actos. Quando se chega aos cursos de empreendedorismo (que são úteis apenas para quem possui autonomia e capacidade de iniciativa) é porque se reconhece que não se consegue tocar nos sítios onde a falta de autonomia e a ausência do espírito de iniciativa nascem. Como compensação recorre-se ao lixo ideológico.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.