A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
As opiniões humanas são brinquedos de crianças. (Heraclito, fr. 70)
Por vezes é necessário voltar a tomar consciência dos limites da
natureza humana. Apesar de racionais, os homens são limitados e finitos. As
opiniões que emitem são o fruto dos seus desejos, interesses e medos, muito
mais do que um compromisso com a verdade. Quando pretendem antecipar aquilo que
o futuro irá trazer, para melhor se protegerem, balbuciam algumas profecias,
que o tempo se encarrega de mostrar o ridículo. Como Heraclito sublinhou há cerca de 2500 anos, as opiniões humanas
são brinquedos de crianças.
Assistimos continuamente à emissão de opiniões sobre as quais, na
verdade, temos uma limitada capacidade para relacionar com a verdade dos
factos. O que vai ser o futuro da Europa e de Portugal? Perante nós temos um
banco de nevoeiro. Há coisas que, todavia, sabemos. Sabemos que temos um
problema na Ucrânia, que a guerra civil que por lá grassa tem potencial para infectar
toda a Europa, até porque esta é parte interessada e não está inocente no
processo. A triste história das dívidas soberanas e a crise grega, onde
comportamentos patológicos têm sido constantes, é outro problema que nos diz
imediatamente respeito. A desindustrialização de parte substancial da Europa e
a crise demográfica – problema especificamente europeu – são duas questões que
levantam grandes perplexidades. A isto há que acrescentar o terrorismo no
espaço da União Europeia e os graves problemas do médio-oriente, que nos
afectam directamente, mais do que estamos dispostos a admitir.
Perante este cenário quase apocalíptico, nunca deixo de me espantar
com aqueles que estão cheios de certeza sobre os caminhos que defendem. Esmagar
os gregos ou torná-los heróis da resistência ao neoliberalismo. Ver o problema
da Ucrânia como o resultado do desejo imperial russo ou como o efeito das
manobras euro-americanas. Observar o terrorismo e as crises do médio-oriente
como o produto dos ardis ocidentais ou olhar para esses fenómenos como luta
emancipatória. Todas estas simplificações não passam de jogos infantis. Estamos
a viver um momento muito grave e que não pode ser tratado como uma brincadeira
de meninos. Exige de todos ponderação, sensatez e sentido de equilíbrio. Talvez
assim se encontre um caminho que evite a desgraça que se perfila no horizonte.
O pior que pode acontecer é que políticos e analistas se refugiem na infância e
façam das vidas das pessoas brinquedos de crianças. E nada nos garante que não
vá ser assim.
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