André Masson - Os cavalos de Diomedes (1934)
A mitologia grega tem o condão de revelar o fundo obscuro e cruel que suporta a vida, de manifestar quão selvagens podem ser os comportamentos humanos. Diomedes, rei da Trácia, tinha por hábito alimentar os seus cavalos com carne humana, carne de estrangeiros que as tempestades atiravam para a costa do reino. O que torna, ainda hoje, este mito eficaz não é a estranha dieta dos animais, mas a ligação entre o comportamento cruel e o poder político.
O que se revela neste mito é a inumanidade do poder, a sua natureza antropofágica, a indiferença perante a figura do homem, a necessidade nunca saciada de devorar vidas humanas. Que Diomedes tenha sido derrotado por Hércules, que tenha sido dado como alimento aos seus próprios cavalos, mais do que nos mostrar a violência como caminho para a emancipação política, põe a claro que a violência do poder gera uma violência recíproca, tornando o poder - esse monopólio da violência legítima cujo desígnio é pôr fim à violência social - como a fonte geradora originária da própria violência social.
A propósito de violência social e antropofagia, estou em crer que, tendo em consideração os conceitos éticos e morais do neoliberalismo seria óbvio que, não fora o facto de ser muito mais rentável explorar o homem em lugar de o comer e teríamos porventura hoje perfeitamente consagrada, a prática do canibalismo. Ainda que só à mesa de alguns, bem entendido.
ResponderEliminarBom fim de semana
Abraço
De certa forma, a exploração e o descartar do homem são formas de antropofagia. Ligam-se, na perfeição, ao ritmo, alimentar do homem, aos momentos da absorção de alimentos e de expelição dos dejectos resultantes.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço