Poder-se-á pensar que os ataques terroristas na Europa (à
data que escrevo, os últimos deram-se em Espanha e na Finlândia) devem ser
tratados como os ataques que, em períodos anteriores da nossa História,
ocorreram nesta mesma Europa. Apesar do terror ser terror, independentemente da
sua origem, há uma diferença assinalável. Seja o terrorismo anarquista do
início do século XX, seja o terrorismo de extrema-esquerda e de extrema direita
no último quartel do mesmo século, seja inclusive o terrorismo nacionalista
norte-irlandês ou basco, nenhum deles estava assente numa estrutura ideológica
tão ampla como o terrorismo islâmico. Tão ampla e tão poderosa, pela sua
natureza político-religiosa, pelos apoios que goza, apesar das declarações em contrário,
e pela estratégia adoptada.
Em primeiro lugar, é preciso perceber que este terrorismo e
esta violência não é estranha ao Islão. Este é múltiplo e multifacetado e,
certamente, há muitos e muitos crentes e religiosos pacíficos. O problema é que
o Islão vê como infiéis os crentes de outras religiões e os não crentes, vendo-se
a si mesmo como a única religião verdadeira e, por ser verdadeira, devendo ser
imposta nem que seja pela força. A tragédia dos cristãos em terras onde o Islão
é maioritário é terrível, e tem crescido uma complacência global pelas práticas
persecutórias e de conversões forçadas impostas por adeptos do Islão. É preciso
compreender esta natureza expansionista e dominadora do Islão. Se não se
perceber isto, não se percebe o que se está a passar na Europa.
Em segundo lugar, é necessário realçar a incapacidade das
forças políticas democráticas em entender a real dimensão do problema. Esquerda
e direita, ambas filhas do Iluminismo, não admitem que alguém queira instaurar
no mundo sociedades de tipo medieval. Por isso não compreendem o que o Islão
pretende e como ele se articula, apesar dos conflitos internos, para o
alcançar. Esta incompreensão é reforçada pelo enviesamento ideológico com que
direita e esquerda olham o assunto. A direita liberal fez da imigração uma arma
para baixar salários e anda de mão dada com potências árabes cujos regimes são
pura e simplesmente medievais, mas cujos solos estão repletos de petróleo. A
esquerda persiste em ler todos estes acontecimentos à luz da luta de classes e,
em última análise, da luta anti-imperialista. Chegados aqui, torna-se difícil afirmar
o que é mais preocupante. Se as pretensões islâmicas, se a cegueira das elites
políticas do Ocidente.
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