Joan Ponç - sem título (1949)
Sentou-se. Estendeu a perna direita. O pé ficou, ao inclinar-se,
assente na parte interior, deixando o longo salto do sapato encostado
lateralmente à madeira do soalho. A outra perna permaneceu flectida, apoiada no
sofá. O corpo descaiu levando o rosto quase a tocar no joelho erguido. Os
cabelos louros, ondulados ao de leve nas pontas, taparam-lhe a face; apenas se
entrevia parte do queixo. O vestido preto subiu um palmo acima dos joelhos. A
mão esquerda, com um anel coroado por uma enorme pedra de fantasia no dedo
mínimo, aproximou-se da perna erguida e prendeu a meia entre o indicador e o
polegar. Puxou-a e deixou-a ir, para a tornar a puxar e a deixar ir de novo,
num movimento ininterrupto, cadenciado, ao mesmo tempo que baloiçava as costas,
fazendo com que a boca quase tocasse o joelho. Durante alguns minutos não parou.
Por fim, quedou-se hirta. Ouviu-se então um soluço. Puxou a meia até
esta se romper. Nesse instante mordeu o joelho. Um fio de sangue deslizou pelo
nylon lacerado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.