Tourada, a canção vencedora do Festival RTP de 1973. Há nela
uma inteligência assinalável ao pegar num dos símbolos dos estratos sociais
mais conservadores, apoiantes do regime, a tourada, e usá-lo como crítica social
e política. Como explicar que esta letra, de José Carlos Ary dos Santos (pouco
interessante enquanto poeta, mas um grande letrista), passe pela censura, se
apresente a concurso na televisão da ditadura, e ganhe? Só há uma explicação.
Uma parte substancial do país já tinha percebido que o regime se tinha
transformado numa enorme, embora sofrível, tourada. Esta é uma autêntica canção
de intervenção, uma canção que anunciava os tempos que estavam para vir. Se não
tivesse mais nenhum interesse, mas ela possui outros, interessaria enquanto
facto profético anunciador do amanhã, quase dos amanhãs que cantam. Quem diria
uma tonalidade cantante tão vermelha num regime a vacilar entre o cinzento e o
negro?
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