Alfonso Parra Domínguez - Realidad dialéctica (1977-78)
Nota-se, em certos sectores da direita, mais activos nas
redes sociais, um certo ressentimento com a eleição de Mário Centeno. Esse
ressentimento manifesta-se, por vezes, de forma enviesada. Anunciam que o BE e
o PCP tiveram de engolir mais um grande sapo. Contudo, isto não passa de um
equívoco. Quando esses partidos estabeleceram os acordos de governo com o PS, imaginavam que
este se tinha transformado num partido revolucionário anti-europeu, um partido
que estaria disposto a emular os primeiros tempos do Syriza na Grécia? É
evidente que tanto PCP e BE sabiam bem, muito bem, que tipo de partido era o
PS. Sabiam também que este, no governo, não desafiaria o essencial da ortodoxia
que rege o euro. BE e PCP não foram ao engano. Só para a direita foi uma
surpresa o caminho que o país seguiu com a actual solução política.
Dirá essa mesma direita, desesperada por BE e PCP não
derrubarem o governo para que ela volte ao poder, que isso contraria aquilo que
ambos os partidos defendem. Talvez. No entanto, desconfio que tanto os
eleitores do BE como os do PCP estão muito longe de quererem um novo resgate ou
uma aventura que conduza ao enfrentamento com a União Europeia e à saída do
Euro. Mesmo para comunistas e bloquistas a saída do Euro poderia ser devastadora
para os seus partidos e, portanto, não estão dispostos a criar um problema em
que se corre o risco de todos perderem, talvez eles mais que todos os outros. Também BE e PCP sabem, e o PCP sabe-o
há muito, que a política é a arte do possível e percebem que há que conformar
os princípios aos interesses dos seus eleitorados. Coisa que todos fazem. A
realidade é o que é.
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