Marc Chagall, Êxodo, 1952-66
Mais de 350 anos da chamada Paz de Vestefália tornaram, para
nós Europeus, a territorialidade e a soberania, a que posteriormente se
adicionou o jogo da cidadania com as suas regras de inclusão e de exclusão,
como o modo natural do existir humano. A cada grupo o seu território e as
suas leis. E esse longo hábito social e político tornou-nos cegos para a
realidade da espécie humana. A errância pelo mundo e o êxodo contínuo de povos
e grupos alargados de indivíduos são pulsões tão fortes que não reconhecem os
diques que a ordem jurídica trazida à Europa, e através dela ao mundo, pela Paz
de Vestefália quer impor à realidade.
Aquilo que assistimos na Europa com a chegada contínua de imigrantes
e a eleição, em diversos países europeus, de governantes com programas para
liquidar a chegada de migrantes e, se possível, expulsar os que já lá estão é
apenas a manifestação do conflito entre a pulsão natural da espécie humana para
o êxodo e a artificialidade cultural e jurídica da territorialização das
soberanias. No mundo ideal nascido com a Paz de Vestefália, nós teríamos o
nosso território e as nossas regras e vós, os outros, o vosso território e as
vossas regras. A realidade, porém, é que as fronteiras jurídicas são
construções frágeis perante o apelo constante ao êxodo que anima a espécie
humana, como se o nosso lugar fosse sempre um outro no qual não estamos.
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