Raymond Daussy - Icarus flight (1948)
Talvez um dia destes fale sobre Tertuliano. Tudo é possível.
Hoje, porém, fico-me pela frase latina Credo
quia absurdum, Creio porque é
absurdo. O que me interessa não é a polémica religiosa entre o fideísmo e a
ortodoxia, tão pouco o desafio que ela apresenta à razão filosófica. A frase de
Tertuliano é um óptimo guia para determinar a verdade dos acontecimento
políticos de hoje em dia. Há tempos, muito se falou – por exemplo, na sequência
do Brexit ou da eleição de Trump –
numa era da pós-verdade. Erro de perspectiva. A nova era não nega a verdade,
diz-nos apenas que o verdadeiro é absurdo. As pessoas lamentam-se de que, em
política, não sabem o que acreditar e em quem acreditar. A solução é fácil:
quanto mais absurdo mais digno de ser considerado verdade. Um acontecimento é
absurdo, logo é verdadeiro. Um personagem político é absurdo, logo é digno de
crédito. Qualquer argumento político que se possa reduzir ao absurdo deve ser
considerado válido. Tertuliano, na verdade, era um visionário. Da longínqua
Cartago dos século II e III da nossa era, ele olhou para o futuro e compreendeu
a essência dos nossos dias: Credo quia absurdum.
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