quinta-feira, 4 de abril de 2019

Questões de família

Matias Quetglas, Conversación amorosa II, 1985

Todas estas histórias familiares que assombram o governo são o sinal de que as elites políticas se julgam impunes e acima da opinião da plebe democrática. O problema, claro, não está apenas nos socialistas. Basta recordar o que se passou no tempo de Cavaco Silva para se perceber que o problema é mesmo do arco da governação. No entanto, os socialistas deveriam ter em consideração três coisas básicas. A primeira diz respeito à história do próprio partido na governação e das suspeitas que recaem sobre um antigo primeiro-ministro socialista. Isso indispõe à partida muitos eleitores com qualquer coisa que não seja a dura virtude moral. Em segundo lugar, a direita não tendo  causas políticas para fazer oposição, pois a esquerda ficou-lhe com elas, vive de casos e estes casos dão-lhe combustível e votos. Em terceiro lugar, as redes sociais não dão apenas voz à indignação popular. Elas ampliam-na até a tornar ensurdecedora. E não se trata de encontrar um critério claro e uniforme sobre a limitação dos direitos dos familiares de políticos (que bela linguagem), como afirma António Costa, nem de fazer uma lei mais exigente, como pensa Marcelo Rebelo de Sousa. Trata-se de mudar radicalmente de atitude relativamente ao nepotismo generalizado que parece haver no corpo político da nação. Trata-se de perceber que o nepotismo e o amiguismo devem ser banidos da vida política, pois destroem a confiança dos cidadãos nas instituições e destroem o edifício democrático. Governos e autarquias não são sítios para encontros de amigos, passeios de família ou matrimónios felizes. E se acham que não é assim, não se admirem que aparece um dia destes um condottiero que arraste a plebe sedenta de justiça e de vingança.

2 comentários:

  1. Sinceramente duvido que esta situação crie problemas ao PS. Aliás, já não os tinham criado ao Cavaquismo.
    Os portugueses sentem-se bem com estes enredos e se pudessem protagonizavam-nos sem quaisquer hesitações.

    Abraço

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    1. Talvez não criem, mas há coisas a ter em conta. Em primeiro lugar, as pessoas são muito mais condescendentes com as tropelias quando são praticadas à direita do que o são se praticadas à esquerda. Depois, no tempo de Cavaco não havia redes sociais e estas são um coro de desiludidos com a política, fundamentalmente se é a esquerda que está a governar. O próprio António Costa - sempre tão displicente para o assunto - parece ter acordado para o problema que pode vir a ter.

      Abraço

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