terça-feira, 23 de abril de 2019

Sondagens, Marcelo, Anos Sessenta e Notre-Dame


AS SONDAGENS E AS FAMÍLIAS. As sondagens reflectem já o desgaste que os socialistas estão a sofrer devido à trapalhada em que se meteram com as ligações familiares na governação. Pode-se pensar que se nos tempos de Cavaco as coisas chegaram onde chegaram (num dos governos foram nomeadas para cargos mulheres de onze ministros, para além de outras ligações familiares), hoje em dia uma situação mais benigna também não teria consequências políticas. Os tempos, porém, mudaram. A indisposição dos portugueses com os políticos, as redes sociais e o facto do governo ser de esquerda. Os socialistas são exímios em fornecerem casos a uma direita destituída de causas e de políticas. As sondagens são o espelho dessa generosidade.

A INICIATIVA DE MARCELO. A iniciativa do Presidente da República ao propor uma lei sobre as incompatibilidades do Presidente – na sequência das relações familiares no governo – torna claro que o actual PR tem interesses políticos muito para além dos afectos e das selfies. Ultrapassando os limites que a Constituição impõe, Marcelo tenta condicionar a opinião pública relativamente ao governo e à maioria de esquerda. O PR, no âmbito da Constituição Portuguesa, não é um juiz, mas um actor político e Rebelo de Sousa, desde o primeiro momento, assumiu essa sua condição. Parece não lhe faltar vontade nem criatividade para dar um cunho presidencialista a um regime semipresidencial.

RATZINGER E OS ANOS SESSENTA. Na recente intervenção de Bento XVI sobre os problemas da pedofilia que assombram a Igreja Católica, o Papa emérito referiu a cultura desenvolvida nos anos 60 como culpada pelo afrouxamento dos padrões morais. Isso teria conduzido à autêntica pandemia de abusos sexuais que têm vindo a ser descobertos. As reacções de indignação não se fizeram esperar contra a abusiva ligação entre os dois fenómenos. O que me interessa salientar, porém, é outra coisa: a incapacidade existente, entre detractores e defensores, para avaliar as consequências morais da revolução dos costumes dos anos 60, que começaram com a autorização do uso da pílula e acabaram com as revoltas estudantis de 68 e o Festival de Woodstock, de 1969.

NOTRE-DAME DE PARIS. Escrevo enquanto arde a catedral de Notre-Dame de Paris. Num momento como este torna-se claro que há qualquer coisa que une os europeus. Antes da política e das peripécias por que passa a União Europeia, e  apesar das rivalidades que sempre existiram entre eles, há um substrato cultural e civilizacional em que todos se reconhecem. Está a arder perante os nossos olhos uma parte da alma europeia.

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