sexta-feira, 12 de abril de 2019

Sonhos numa noite de Verão 16

Toni Scheiders, Waiting Woman, Ingolstadt, February, 1951

Entrei na carruagem e sentei-me num dos poucos lugares vazios. Ao meu lado, absorta, a mulher olhava através do vidro batido pela chuva. Não lhe conseguia ver o rosto. Ela estava imóvel, os olhos inclinados para o que se passava na rua, talvez presos aos carris. Permaneceu assim enquanto o comboio esteve parado. A viagem recomeçou, mas a sua imobilidade manteve-se. Uma ameaça velada parecia tomar conta da carruagem. Quando ela se voltou e poisou os seus olhos nos meus, reconheci-a e, de imediato, me levantei e comecei a correr pela carruagem. Era a mulher que conhecia o meu destino. Acordei ao ouvir o apito. Ao meu lado não havia ninguém, e lá fora apenas a campina monótona cortada pelo silvar ameaçador do comboio.

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