A generalidade dos cidadãos, onde se incluem as elites
políticas, não tem qualquer capacidade para julgar se as alterações climáticas
em curso são de origem humana ou se são apenas efeitos de uma alteração do
clima que ocorre independentemente das acções humanas. A questão é fundamental.
Se as alterações climáticas não são de origem humana, poder-se-á argumentar,
como o fazem certos sectores, que toda a preocupação é inútil. Se, pelo
contrário, as alterações climáticas tiverem origem na acção do homem a partir
da Revolução Industrial, há a esperança de, alterando o comportamento humano,
impedir um desfecho trágico para a existência do homem na Terra.
Um argumento a favor da crença de que as alterações
climáticas actuais são de origem humana é o facto de grande parte dos
cientistas que trabalham sobre o clima terem essa perspectiva. Existem também
cientistas com opinião contrária, mas são largamente minoritários. Um segundo
argumento está ligado às motivações dos negacionistas que, devido a interesses
particulares, tendem a negar a realidade. Isso passou-se noutras alturas e o
caso mais conhecido é o da indústria do tabaco que, quando a ciência começou a
estabelecer a relação entre o fumo e o cancro de pulmão, lançou uma estratégia
para criar uma dúvida persistente na opinião pública. A negação relativamente
ao clima seria também uma criação dos chamados mercadores da dúvida, os quais
operam para desacreditar o trabalho científico aos olhos do público, permitindo
às indústrias poluentes continuarem a não ser incomodadas.
Não são precisos, porém, nenhum destes dois argumentos para
defender uma radical alteração das políticas e dos comportamentos relativamente
ao clima. Podemos admitir que existe grande incerteza sobre se as actuais alterações
do clima se devem ao homem ou se decorrem da própria natureza. Essa incerteza
basta para que os seres humanos e os dirigentes políticos ajam com prudência, o
que significa alterar o nosso modo de vida e ter políticas adequadas a essa
alteração. Essa prudência tem uma dupla vantagem. Caso as alterações climáticas
sejam de origem humana, a prudência poderá evitar a tragédia que se anuncia. Se
as alterações climáticas forem de origem natural, a prudência ajudará a
minimizar os efeitos em vez de os agravar. Do ponto de vista político e ético,
é indiferente se possuímos uma teoria fortemente corroborada da origem humana
das alterações do clima (como parece ser o caso) ou se há uma grande incerteza
científica sobre a origem dessas alterações (como pretendem os negacionistas). Os
imperativos práticos são os mesmos.
[A minha crónica no Jornal Torrejano]
Excelente!
ResponderEliminarUm abraço
Muito obrigado.
EliminarAbraço