Juan Barjola, Multitud, 1990 |
A democracia representativa foi uma invenção genial. Com ela tinha-se o melhor de dois mundos. A possibilidade de todos participarem no processo político e uma barreira sólida, embora discreta, aos desmandos e delírios da massa. A democracia representativa foi inventada contra as pretensões irrazoáveis da massa. Não é perfeita, o seu formalismo pode ser, e tem sido, capturado por interesses particulares, mas nunca prometeu um paraíso na terra. É um regime cordato que tem permitido uma vida civilizada entre homens com ideias e paixões distintas. Agora que a revolução digital está a dinamitar a democracia representativa e a abrir caminho para uma nova forma de democracia fundada no gosto e arbítrio da massa, no seu rancor ao outro, começa a justificar-se toda a desconfiança com que a democracia foi olhada desde Platão. O gosto da massa, os seus instintos mais rudes, a sua incompreensão por aquilo que é mais elevado, o ódio e ressentimento ao que não compreende são o caminho que, não sendo atalhado, destruirá o que ainda há de nobre na democracia representativa, podendo abrir a via para um totalitarismo que, devido ao desenvolvimento tecnológico, fará dos totalitarismos do século XX uma brincadeira de crianças.
Os povos têm os totalitarismos que merecem porque, de uma maneira ou de outra, são eles que os escolhem.
ResponderEliminarUm abraço
Sim, são eles que escolhem, mas há quem não escolha e tem de suportar escolhas de terceiros.
EliminarAbraço