segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

E se a democracia representativa acabar?

Juan Barjola, Multitud, 1990

A democracia representativa foi uma invenção genial. Com ela tinha-se o melhor de dois mundos. A possibilidade de todos participarem no processo político e uma barreira sólida, embora discreta, aos desmandos e delírios da massa. A democracia representativa foi inventada contra as pretensões irrazoáveis da massa. Não é perfeita, o seu formalismo pode ser, e tem sido, capturado por interesses particulares, mas nunca prometeu um paraíso na terra. É um regime cordato que tem permitido uma vida civilizada entre homens com ideias e paixões distintas. Agora que a revolução digital está a dinamitar a democracia representativa e a abrir caminho para uma nova forma de democracia fundada no gosto e arbítrio da massa, no seu rancor ao outro, começa a justificar-se toda a desconfiança com que a democracia foi olhada desde Platão. O gosto da massa, os seus instintos mais rudes, a sua incompreensão por aquilo que é mais elevado, o ódio e ressentimento ao que não compreende são o caminho que, não sendo atalhado, destruirá o que ainda há de nobre na democracia representativa, podendo abrir a via para um totalitarismo que, devido ao desenvolvimento tecnológico, fará dos totalitarismos do século XX uma brincadeira de crianças.

2 comentários:

  1. Os povos têm os totalitarismos que merecem porque, de uma maneira ou de outra, são eles que os escolhem.

    Um abraço

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    Respostas
    1. Sim, são eles que escolhem, mas há quem não escolha e tem de suportar escolhas de terceiros.

      Abraço

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