quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A Origem da Luz 3

Arshile Gorky, Good hope II (Pastoral), 1945

Observar a macieira, espectro no centro
da terra, era de todos o primeiro sonho.
Parados no soalho, olhavam especados.
Tomo da memória a coloração dos sons,
o timbre dos odores, a caducidade dos gestos.

Dos vidros, restava a memória da guerra,
a recordação profana do corpo dilacerado.
Os deuses desciam envoltos em seus halos,
em breves haustos abençoavam pedras e heras
que suspensas em ocultas mãos amavam.

Galáxia ou um império de frutos a nascer,
os dedos aprenderam a luz da noite. A maçã
reinava nas brancas paredes dos quartos,
onde silhuetas jogavam os primeiros dados.
Um pequeno raio fulgia e afogava os astros.

(1981)

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