sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Serviços públicos, superavit, sistemas eleitorais e vergonha


DEGRADAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS. Existe a ideia de que a degradação dos serviços públicos se resolveria com uma melhor gestão. Qualquer partido a defende desde que esteja na oposição. O problema, porém, é outro, a falta de dinheiro. As políticas de restrição orçamental não terminaram com a saída da troika e o fim do governo de Passos Coelho. Continuaram na legislatura seguinte, baseada numa coligação parlamentar das esquerdas, e continuam agora. A razão é muito simples. A dívida é enorme, os nossos parceiros europeus nem querem ouvir falar na sua reestruturação e o país continua a precisar de ter juros muito baixos. O resto faz parte do combate partidário.

SUPERAVIT ORÇAMENTAL. Consta que o governo, no orçamento para o próximo ano, se propõe alcançar um saldo orçamental positivo. A acontecer será a primeira vez nos últimos 50 anos, o que inclui governos da própria ditadura com saldo negativo. Há quem veja o acontecimento como negativo e ache que o dinheiro deveria ser gasto, continuando o país a endividar-se. No entanto, tem que chegar um momento em que a comunidade – e o Estado é a comunidade organizada para tomar decisões sobre a vida comum – tem de olhar para a realidade e viver com o que tem. Aquilo que foi iniciado no governo PSD-CDS e continuado na anterior legislatura deve prosseguir. As contas em ordem tornam o país mais forte e protegem as pessoas das visitas indesejáveis das troikas.

UM SISTEMA ELEITORAL A EVITAR. As eleições em Inglaterra confirmaram a legitimidade de Boris Johnson e dos resultados do referendo que conduz à saída da Inglaterra do projecto Europeu. O curioso é que esta vitória se dá quando o número de votantes dos partidos pró-brexit é menor do que o número de votantes nos partidos pró-UE. Como se explica isto? Pelo sistema eleitoral inglês, o qual distorce acentuadamente a representação proporcional. O Partido Conservador obteve 43% dos votos mas alcançou 56% dos deputados.

O PROBLEMA DA VERGONHA. Portugal não tem uma comunidade muçulmana significativa nem existe um qualquer problema que ponha em causa a integridade nacional como em Espanha. Estas são as grandes razões que têm feito crescer a direita populista na Europa. André Ventura, retirando alguma animosidade com a comunidade cigana e um coro de ressentidos, precisa de inventar um eleitorado. A estratégia é a indignação e a vitimização. Ferro Rodrigues caiu na esparrela. Os democratas – em particular os de esquerda – devem ponderar bem o modo como enfrentam quem não perderá qualquer minudência para fazer um drama de faca e alguidar. É um problema de luta pelo mercado eleitoral.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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