DEGRADAÇÃO DOS
SERVIÇOS PÚBLICOS. Existe a ideia de que a degradação dos serviços públicos
se resolveria com uma melhor gestão. Qualquer partido a defende desde que
esteja na oposição. O problema, porém, é outro, a falta de dinheiro. As
políticas de restrição orçamental não terminaram com a saída da troika e o fim do governo de Passos
Coelho. Continuaram na legislatura seguinte, baseada numa coligação parlamentar
das esquerdas, e continuam agora. A razão é muito simples. A dívida é enorme,
os nossos parceiros europeus nem querem ouvir falar na sua reestruturação e o
país continua a precisar de ter juros muito baixos. O resto faz parte do
combate partidário.
SUPERAVIT ORÇAMENTAL.
Consta que o governo, no orçamento para o próximo ano, se propõe alcançar um
saldo orçamental positivo. A acontecer será a primeira vez nos últimos 50 anos,
o que inclui governos da própria ditadura com saldo negativo. Há quem veja o
acontecimento como negativo e ache que o dinheiro deveria ser gasto,
continuando o país a endividar-se. No entanto, tem que chegar um momento em que
a comunidade – e o Estado é a comunidade organizada para tomar decisões sobre a
vida comum – tem de olhar para a realidade e viver com o que tem. Aquilo que
foi iniciado no governo PSD-CDS e continuado na anterior legislatura deve
prosseguir. As contas em ordem tornam o país mais forte e protegem as pessoas
das visitas indesejáveis das troikas.
UM SISTEMA ELEITORAL
A EVITAR. As eleições em Inglaterra confirmaram a legitimidade de Boris
Johnson e dos resultados do referendo que conduz à saída da Inglaterra do
projecto Europeu. O curioso é que esta vitória se dá quando o número de
votantes dos partidos pró-brexit é menor do que o número de votantes nos
partidos pró-UE. Como se explica isto? Pelo sistema eleitoral inglês, o qual
distorce acentuadamente a representação proporcional. O Partido Conservador
obteve 43% dos votos mas alcançou 56% dos deputados.
O PROBLEMA DA
VERGONHA. Portugal não tem uma comunidade muçulmana significativa nem
existe um qualquer problema que ponha em causa a integridade nacional como em
Espanha. Estas são as grandes razões que têm feito crescer a direita populista
na Europa. André Ventura, retirando alguma animosidade com a comunidade cigana
e um coro de ressentidos, precisa de inventar um eleitorado. A estratégia é a
indignação e a vitimização. Ferro Rodrigues caiu na esparrela. Os democratas –
em particular os de esquerda – devem ponderar bem o modo como enfrentam quem
não perderá qualquer minudência para fazer um drama de faca e alguidar. É um
problema de luta pelo mercado eleitoral.
[A minha crónica no Jornal Torrejano]
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