domingo, 29 de dezembro de 2019

A Origem da Luz 4

Zao Wou-Ki, 10-2-76

O tempo em que voltavas com os teus mostruários,
pequenos faróis vermelhos, ébrios de tanto caminhar.
Sonolentas bicicletas iam e vinham, cerziam a aldeia
de lés-a-lés, como se um deus infrutífero descesse e
poisasse insensato na calma placidez dos dias.

Aqui, destas janelas, avistei o insuspeitado mundo
e nada era puro ou mácula alguma habitava
o regaço das mulheres. As coisas eram o enorme
incêndio de serem apenas coisas, pedaços terríveis
na sujeição ao tempo, o feroz tribunal sem lei.

Eras a presença tutelar, o meu respeito,
caminho de argila e calcário a abrir-me ao mundo.
Trazias-me as cores e um dever ser, o crime jamais
alguém o pagará. Pedra a pedra o universo cresceu e
sobre mim desabou. Nele um deus infrutífero nascia.

(1981)

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