sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Dizer não

Johan Hagemeyer, Wires, 1928
Também a orientação dos sonhos que guiam a humanidade é tocada pela volubilidade, ainda que isso não seja sempre aparente. Durante muito tempo sonhou-se em ligar toda a humanidade. Estabelecer contacto era um imperativo moral. A partir de certa altura estenderam-se por toda a Terra milhões de quilómetros de cabos com a esperança que, cingidos os homens pela força do cobre, estes comunicassem e, na hipótese mais favorável, se entendessem. A imaginação, todavia, nunca descansa e, agora que toda a gente parece estar enredada numa teia global, sonha em desligar, cortar a comunicação, serrar os cabos vistos como amarras que prendem as pessoas, numa comunhão que parece estar a tornar-se insuportável. O trabalho da imaginação não começa por ser um reproduzir da realidade nem, tão pouco, criar um esquema que produzirá o que é novo. O primeiro balbucio é quase sempre um dizer não.

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