A celebração do 25 de Abril deste ano foi, do ponto de vista
simbólico, a mais importante de sempre. Tem múltiplos aspectos a merecer realce.
Em primeiro lugar a controvérsia lançada por quem, do ponto de vista político,
queria que as celebrações não se realizassem. Mostra que há sectores na direita
que têm dificuldade em lidar com a data. A explicação não é difícil e não tem
que ver com a data, mas com o facto de a direita portuguesa, com honrosas mas
raras excepções, ter estado em bloco do lado da ditadura. Quando o regime cai
em 1974, havia esquerdas oposicionistas mas não havia direitas oposicionistas. Uma
parte da direita nunca se curou do seu colaboracionismo com a ditadura.
No entanto, durante estas décadas, assistimos à estruturação
de uma direita democrática, de tipo ocidental, e ela revelou-se claramente
neste 25 de Abril. A posição inequívoca de Rui Rio, do PSD e de Marcelo de
Rebelo de Sousa mostraram, para quem tivesse dúvidas, que existe uma direita
que, na sequência de Sá Carneiro, afirma claramente os valores políticos que
triunfaram com o 25 de Abril. Enquanto o CDS se deixou enredar na teia da
extrema-direita, o PSD e o Presidente da República foram decisivos para o
carácter nacional da celebração do 25 de Abril.
Quando se vivem momentos excepcionais, aquilo que emerge é o
fundamental. E o fundamental foi o que se viu no parlamento. Por muito que isso
seja doloroso para uma parte da esquerda social, a essência do 25 de Abril não reside
num sonho revolucionário destruído, mas na democracia liberal que se construiu.
A sessão na Assembleia da República foi um tributo aos capitães de Abril, mas
foi essencialmente um tributo, exigido por parte substantiva da direita e de
toda a esquerda, à democracia parlamentar, ao regime onde existe alternância no
poder e em que os actores políticos não são inimigos a eliminar mas adversários
que participam na disputa legal pelo poder. Foi isto que se comemorou na
Assembleia.
Para concluir vale a pena sublinhar outro facto. Houve uma
tentativa de mobilizar os sentimentos religiosos dos portugueses contra a
realização da sessão no parlamento. A presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa
na sessão foi um sinal decisivo de qual a posição da Igreja Católica. Mostrou
que a Igreja não deu cobertura à campanha contra o 25 de Abril, contra as
instituições democráticas e, acima de tudo, tornou patente que não existe nenhuma
questão religiosa em Portugal. As instituições religiosas e as instituições
democráticas vivem, apesar de separadas, em respeito mútuo, tal como se exige
numa democracia liberal.
[A minha crónica no Jornal Torrejano online]
Análise muito interessante.
ResponderEliminarUm abraço
Muito obrigado.
EliminarAbraço