Jorge Martins, sem título, 1961 (Gulbenkian) |
Insinua-se
uma árvore no limiar da linguagem,
um
esforço exacto na tremura do horizonte.
A
casa sob as folhas é uma fonte de pontos
e
linhas, uma arquitectura lábil,
o
nascimento do silêncio na poeira da planície.
Da
cruz dilacerada pelos ventos,
germinam
pontos cardeais,
vozes
no fundo da vinha,
luas
prisioneiras do vento entre ramos.
Se
o rosto se cerra na areia das mãos,
insectos
crepitam na escuridão das órbitas,
no
mundo proscrito, a seda póstuma da tarde.
A
planície desfolha-se em navios,
nuvens
de cinza sobre os lados do Ocidente.
A
rapariga traz água pelo cântaro,
a
distância insinuada na sombra das searas.
É
uma rapariga aberta à luz, a túnica pelo chão.
Os
homens sentam-se na madeira da memória,
pensam
na rapariga perdida na espuma da paisagem,
um
travo de cerveja tecido no lúpulo do olhar.
Nenhuma
espiga oscila na pedra do desejo,
na
praia coberta de veludo.
Nos
olhos dos homens, nascem planícies
onde
raparigas desaparecem na luz do dia.
1993
[Conjunto de três poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.