quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Política e economia


A indicação, pelo primeiro-ministro, de Maria Luís Albuquerque para comissária europeia foi recebida com largos encómios, por parte dos apoiantes do governo, ou por críticas mais ou menos severas, por parte das oposições. Na verdade, a pessoa indicada é irrelevante, pois estará submetida a uma lógica política que não é decidida por ela.  Contudo, Maria Luís Albuquerque, como a generalidade dos políticos europeus, da área da governação, à direita e à esquerda, representa uma visão da política perigosa, visão dominante no mundo ocidental e que está na génese das dificuldades pelas quais o Ocidente passa nesta hora. O que está em jogo é a negação da autonomia da esfera política e a sua submissão à esfera da economia. Esta visão é partilhada, embora de modo diferente, tanto por liberais como por marxistas.

Por que razão esta visão é perigosa e está na base nas nossas actuais dificuldades? Para o percebermos é necessário compreender o que é a dimensão política. Para que serve a política? Serve para assegurar a existência de uma certa comunidade tanto no espaço (no seu território) como no tempo (evitar que ela não desapareça). A acção política visa apenas isto. Não se propõe salvar as almas das pessoas, ou torná-las moralmente melhores, nem, sequer, tornar as pessoas mais prósperas. A política tem por objectivo uma questão existencial. A existência no espaço e no tempo de uma comunidade humana com identidade própria que a diferencia de outras comunidades. Por exemplo, Portugal. As outras dimensões, apesar de importantes, só são relevantes como instrumentos do desígnio político e devem estar subordinadas a este.

Os problemas que assolam a União Europeia estão relacionados com isto. Ela submeteu a política aos interesses económicos. Os países europeus abdicaram da sua soberania não para uma entidade política superior como a União Europeia, mas para os denominados mercados. É esta submissão da política à economia que não permitiu aos países europeus perceber o caminho que a Rússia estava a trilhar e a onde ele iria conduzir. Também os desarmou perante os interesses das grandes multinacionais, que sobrepõem os seus interesses privados aos das comunidades. É patética a impotência dos países perante os gigantes tecnológicos e as redes sociais. A submissão da política à economia está a destruir as nações europeias e a dar espaço à extrema-direita. Se o projecto marxista é acabar com a dimensão política, o liberal, onde se insere Maria Luís Albuquerque, é reduzi-la ao mínimo, submetendo-a aos mercados. O primeiro é utópico, o segundo é suicidário. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.