Por que razão esta visão é perigosa e está na base nas nossas actuais dificuldades? Para o percebermos é necessário compreender o que é a dimensão política. Para que serve a política? Serve para assegurar a existência de uma certa comunidade tanto no espaço (no seu território) como no tempo (evitar que ela não desapareça). A acção política visa apenas isto. Não se propõe salvar as almas das pessoas, ou torná-las moralmente melhores, nem, sequer, tornar as pessoas mais prósperas. A política tem por objectivo uma questão existencial. A existência no espaço e no tempo de uma comunidade humana com identidade própria que a diferencia de outras comunidades. Por exemplo, Portugal. As outras dimensões, apesar de importantes, só são relevantes como instrumentos do desígnio político e devem estar subordinadas a este.
Os problemas
que assolam a União Europeia estão relacionados com isto. Ela submeteu a
política aos interesses económicos. Os países europeus abdicaram da sua
soberania não para uma entidade política superior como a União Europeia, mas
para os denominados mercados. É esta submissão da política à economia que não
permitiu aos países europeus perceber o caminho que a Rússia estava a trilhar e
a onde ele iria conduzir. Também os desarmou perante os interesses das grandes
multinacionais, que sobrepõem os seus interesses privados aos das comunidades.
É patética a impotência dos países perante os gigantes tecnológicos e as redes
sociais. A submissão da política à economia está a destruir as nações europeias
e a dar espaço à extrema-direita. Se o projecto marxista é acabar com a
dimensão política, o liberal, onde se insere Maria Luís Albuquerque, é
reduzi-la ao mínimo, submetendo-a aos mercados. O primeiro é utópico, o segundo
é suicidário.
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