Anónimo românico - Historia de Caín y Abel
Há duas narrativas simbólicas que, na nossa cultura, são essenciais
para compreender a condição humana. Essas narrativas estão longe se nos darem
uma visão optimista da nossa condição actual. Não é que neguem em absoluto ao
homem a possibilidade de uma vida segundo o bem, mas não aqui e agora. Trata-se
do mito da queda de Adão e Eva e da Alegoria da Caverna, de Platão. Com o mito
da queda ficamos a saber que não vivemos no paraíso. O lugar que nos cabe é o
da dor, do sofrimento, da finitude e da morte. Mesmo os prazeres se inscrevem
nesse horizonte sombrio para onde fomos relegados após a desobediência dos
nossos pais ancestrais. A história de Abel e Caim conclui essa visão pessimista
sobre a nossa existência no mundo. Na Alegoria da Caverna, ficamos a saber que
somos prisioneiros e, fundamentalmente, ignorantes. Mesmo que um ou outro dos
reclusos se evada e descubra a luz da verdade e do bem, a multidão dos homens
que vivem na caverna jamais compreenderá o que ele tem para dizer. De certa
maneira, e fundindo as duas narrativas, podemos dizer que Adão e Eva, ao serem
expulsos do paraíso, foram encerrados na caverna platónica, que não é outra
coisa senão o mundo que habitamos. O que estas narrativas põem a nu é a ilusão
de que o mundo que habitamos seja o lugar onde o bem e a verdade se realizam de
forma absoluta. Recomendam, antes, a humildade tanto sobre os objectivos dos
nossos actos como sobre o valor da nossas crenças. Na verdade, não deixamos de
ser os herdeiros dos que foram expulsos do paraíso e encerrados na caverna.
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