Nicolas Poussin - The Plague of Ashdod (1630)
A minha crónica quinzenal no Jornal Torrejano.
A RTP teve a feliz ideia de adaptar para português uma série de origem
israelita que gira à volta de sessões de psicanálise. Deu-lhe o nome de Terapia. Em cada dia da semana, um
paciente confronta-se consigo mesmo no consultório do psicanalista. À primeira
vista nada parece menos motivante para um telespectador do que assistir a uma
consulta, onde um paciente fala e um psicoterapeuta escuta e murmura.
A verdade, porém, é que a consulta, apesar de não conter praticamente
qualquer tipo de acção a não ser os diálogos, torna-se um lugar privilegiado de
conflitos e suspense. De tal maneira que o espectador – como acontecia
antigamente com os leitores de romances em folhetim – anseia pelo episódio da
próxima semana para acompanhar o destino do paciente e ver o que lhe acontece.
Devido à evolução da televisão, tenho o privilégio de poder assistir a
estes episódios à hora do telejornal e não quando são transmitidos. Também os
noticiários trocaram a informação objectiva pela narrativa ficcional. São histórias
sem fim, onde os pobres jornalistas se obrigam a inventar um discurso desconexo
para não dizer coisa alguma, com a única finalidade de ocuparem o tempo de
antena e, instrumentalizando a vida das pessoas, fazer com que a emissão de
televisão saia mais barata.
A ficção informativa tornou-se, hoje em dia, uma ameaça à saúde
pública, alimentando uma histeria mansa e sem fim, cujo resultado é impedir as
pessoas de olhar objectivamente a realidade e de a avaliar criticamente. Poder
ver, no lugar dos noticiários, uma série como Terapia não é apenas um prazer estético devido à qualidade dos
diálogos e das intrigas. É uma verdadeira terapia contra o enjoo e o absurdo em
que a informação se tornou neste pobre país.
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