domingo, 3 de janeiro de 2016

Da distância e da proximidade


A irrupção da paixão erótica anula, entre os amantes, aquilo que é a norma fundamental da vida entre os seres humanos, a distância. Dizer a outro que se ponha no seu lugar não é, em primeiro lugar, um culto da hierarquia. É um pedido para que não anule a justa distância que nos permite estar em segurança. Só depois vem o prazer da hierarquia. A distância é o elemento central das nossas vidas. Manter-se à distância, colocar o outro à distância. A necessidade da distância provém de um medo arcaico ligado à necessidade de sobrevivência. A proximidade de outro é sentida como uma ameaça e uma ameaça mortal. 

É o impulso erótico - que mistura desejo sexual e fascínio pela morte - que abre o caminho para o contacto, a proximidade, o desejo de tocar e de ser tocado, uma pulsão de fusão. Esta pulsão de fusão, todavia, tem a sua génese na distância e vive da distância. A consumação da aproximação e a iteração da proximidade acabam por dissolver a energia de Eros. Esta apenas subsiste se na própria aproximação se mantiver uma distância, num jogo tenso entre distância, aproximação, fusão e distanciamento. Um distanciamento que torne a velar o objecto da paixão, numa luta contra a revelação e o conhecimento. Se o conhecimento triunfa, a distância, aquela que afasta sem desejo de aproximação, instala-se. A vitória do conhecimento é sempre uma degradação do desejo e do fascínio pela morte, uma vitória na luta pela sobrevivência.

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