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A violência doméstica não se resume às patifarias que se fazem às mulheres. Os filhos, por exemplo, são vítimas contumazes. No entanto, em torno dos maus tratos infligidos às mulheres joga-se qualquer coisa de essencial à vida civilizada. A situação deplorável da mulher no Islão - ou em parte apreciável da cultura islâmica - era já um sinal muito preocupante da resistência que os homens opõem à consideração da mulher como um igual. Agora foi a Rússia (onde 36 mil mulheres são agredidas diariamente, ler aqui) a dar mais um golpe na ideia de igualdade de género, ao descriminalizar a violência doméstica, exercida fundamentalmente sobre as mulheres. E se isto é mau, pode não ser o pior. No próprio Ocidente, esse lugar onde os direitos das mulheres e a ideia de igualdade de géneros foi mais longe, sob a capa de se ser politicamente incorrecto, manifestam-se já atitudes e opiniões que mostram bem a ânsia de reverter a situação. O que está em jogo não é pouca coisa. Não é apenas o sofrimento físico e moral das vítimas. É a ideia de que a mulher não é uma coisa da qual se disponha a belo prazer. Quando se permite que alguém possa violentar fisicamente outra pessoa, a vítima perde a condição de pessoa e passa a ter o estatuto de coisa. E as coisas não têm vontade própria, nem liberdade. As coisas são mera propriedade. E parece que é para aqui que se caminha, mesmo em lugares insuspeitos, ainda que isso não seja visível aos olhos da maioria. Uma ameaça à vida civilizada.
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