José Viana não era propriamente falando um
fadista. Foi um homem de teatro, de um teatro que terminou pouco depois de o
regime salazarista se ter finado, o teatro de revista. Este fado é
uma das imagens de marca desse teatro e o principal título de glória do
artista. O teatro de revista, uma manifestação eminentemente lisboeta, era uma
espécie de oposição tolerada ao regime, apesar da censura feroz que se abatia
sobre os gracejos mais ou menos brejeiros que os números de revista continham.
As piadas políticas, não passavam disso, eram indirectas, leves alusões que o
público compreendia e das quais ria. Mas só rimos daquilo que toleramos e o
regime sabia disso. Se permitia algumas gargalhadas sobre a sua idiossincrasia,
era porque isso não o punha em causa, pelo contrário. Servia como escape das
tensões ocultas que atravessavam a sociedade. Por muito que isto possa chocar
as leituras do teatro de revista como forma de oposição ao salazarismo, a
verdade é que ele se inseria no Zeitgeist e
o reforçava. Apesar de múltiplas tentativas de reanimação, não resistiu à democracia e à modernização do país trazida pelo espírito europeu e pelo cosmopolitismo.
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