quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O ano de 2017

A minha crónica em A Barca.

O ano político começou com a tomada de possa de Donald Trump como 45º presidente dos Estados Unidos da América. Em 2017, haverá eleições na Holanda, em França, na Alemanha e, talvez, em Itália. É possível que este ano seja o do esboroar do projecto europeu, em crise há muito, provavelmente desde a introdução do Euro ou como resultado dos múltiplos alargamentos e o retorno, em força, dos nacionalismos num conjunto alargado de países membros. A questão fulcral do nacionalismo, porém, não é apenas europeia. Pelo contrário. O mundo globalizado vive, paradoxalmente, um fervor nacionalista. Os EUA foi o última a juntar-se ao clube onde têm lugar privilegiado a Rússia, a China, a Índia, mas também a Turquia, o Irão, o Paquistão e, com o brexit, a Inglaterra.

Um dos equívocos que tomou conta de parte da elite universitária, económica e política europeia foi a convicção de que o Estado-Nação tinha os dias contados. Muito se escreveu, tanto no âmbito académico como político, sobre a morte do Estado-Nação e o advento de uma nova era, atendendo ao processo de globalização em curso, onde os conflitos políticos seriam dirimidos fora do Estado-Nação. Esta crença derivava mais do desejo e da utopia do que da observação da realidade. Na verdade, fora da União Europeia, os Estados-Nação continuavam a fortalecer-se e a forte pressão que, no interior da União se exerceu e exerce sobre eles para lhes retirar poderes, está a gerar, um pouco por todo o lado, o crescimento de forças nacionalistas. Diria que o nacionalismo crescente é o resultado do vanguardismo e voluntarismo dos que pretendem destruir os velhos Estados-Nação europeus, retirando-lhes soberania e submetendo as populações aos poderes nebulosos que regem a União Europeia.


O projecto inicial que levou à União Europeia não tinha a veleidade de pôr fim ao Estado-Nação. Queria ser apenas um espaço onde eles encontrassem um interesse comum e partilhassem forças e fraquezas, mas sem qualquer utopia supra-estatal. Durante muito tempo, a política europeia obedeceu a um imperativo de equilíbrio, de justa medida e de sensatez. Quando, sub-repticiamente, a utopia supra-estatal se tornou dominante, tudo começou a desequilibrar-se e os desequilíbrios começaram a tomar forma no crescimentos dos partidos e movimentos nacionalistas, os quais tiveram ainda a ajuda do radicalismo islâmico. 2017 pode ser o ano em que o mundo em que vivemos desde a nossa adesão à CEE acabe, devorado pela reacção à aventura utópica de uma União Europeia que transformou os Estado-Nação em marionetas de uma confusa e sombria organização de poder supranacional.

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