O ano político começou com a tomada de possa de Donald Trump
como 45º presidente dos Estados Unidos da América. Em 2017, haverá eleições na
Holanda, em França, na Alemanha e, talvez, em Itália. É possível que este ano
seja o do esboroar do projecto europeu, em crise há muito, provavelmente desde
a introdução do Euro ou como resultado dos múltiplos alargamentos e o retorno,
em força, dos nacionalismos num conjunto alargado de países membros. A questão fulcral
do nacionalismo, porém, não é apenas europeia. Pelo contrário. O mundo
globalizado vive, paradoxalmente, um fervor nacionalista. Os EUA foi o última a
juntar-se ao clube onde têm lugar privilegiado a Rússia, a China, a Índia, mas também
a Turquia, o Irão, o Paquistão e, com o brexit,
a Inglaterra.
Um dos equívocos que tomou conta de parte da elite
universitária, económica e política europeia foi a convicção de que o
Estado-Nação tinha os dias contados. Muito se escreveu, tanto no âmbito
académico como político, sobre a morte do Estado-Nação e o advento de uma nova
era, atendendo ao processo de globalização em curso, onde os conflitos
políticos seriam dirimidos fora do Estado-Nação. Esta crença derivava mais do
desejo e da utopia do que da observação da realidade. Na verdade, fora da União
Europeia, os Estados-Nação continuavam a fortalecer-se e a forte pressão que,
no interior da União se exerceu e exerce sobre eles para lhes retirar poderes,
está a gerar, um pouco por todo o lado, o crescimento de forças nacionalistas.
Diria que o nacionalismo crescente é o resultado do vanguardismo e voluntarismo
dos que pretendem destruir os velhos Estados-Nação europeus, retirando-lhes soberania
e submetendo as populações aos poderes nebulosos que regem a União Europeia.
O projecto inicial que levou à União Europeia não tinha a
veleidade de pôr fim ao Estado-Nação. Queria ser apenas um espaço onde eles
encontrassem um interesse comum e partilhassem forças e fraquezas, mas sem
qualquer utopia supra-estatal. Durante muito tempo, a política europeia
obedeceu a um imperativo de equilíbrio, de justa medida e de sensatez. Quando,
sub-repticiamente, a utopia supra-estatal se tornou dominante, tudo começou a
desequilibrar-se e os desequilíbrios começaram a tomar forma no crescimentos
dos partidos e movimentos nacionalistas, os quais tiveram ainda a ajuda do
radicalismo islâmico. 2017 pode ser o ano em que o mundo em que vivemos desde a
nossa adesão à CEE acabe, devorado pela reacção à aventura utópica de uma União
Europeia que transformou os Estado-Nação em marionetas de uma confusa e sombria
organização de poder supranacional.
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