Piet Mondrian - White Rose in Glass (1921)
Num texto de Michel Leiris sobre o envelhecimento e a morte
descobri que o seu avô, um alto funcionário da terceira república, tinha sido
discípulo de Augusto Comte, o filósofo do positivismo, e venerável da loja maçónica
A Rosa do Perfeito Silêncio. Fiquei
fascinado. Não com o avô de Leiris ou com o positivismo de Comte, muito menos
com a maçonaria. O que me fascinou foi a denominação da loja. Não conheço –
nem me interessam – as motivações maçónicas que conduziram a tal nomenclatura,
mas ela poderia ser a evocação de um verso. Um verso que, inopinadamente, desse
a ver que o fruto do perfeito silêncio seria a rosa. É da meditação desta
ligação que me senti empurrado já não para o fascínio mas para a perplexidade.
Esta traduz-se numa questão: e se a rosa, a verdadeira rosa, apenas nascesse
desse silêncio perfeito?
Num mundo onde o silêncio é ruído, ainda que por vezes um
ruído surdo, um rumor, as rosas, quaisquer rosas, são apenas simulacros de
rosas. Todas as que desfilam perante os nossos olhos são o fruto do tumulto que
enche a vida e por isso são rosas que o não são. Talvez sejam projectos de
rosa, expressões de algum desejo, artifícios de um qualquer imperativo, mas não
são rosas. E será que posso falar no plural? Será que poderão existir
verdadeiras rosas? Ou não será a verdadeira rosa única? O nome da loja maçónica
– ou esse verso que foi tomado por designação – talvez indicie essa
singularidade. E aqui a perplexidade transforma-se em assombro: como é fácil
platonizar. A verdadeira rosa não é nenhum dos simulacros com que lidamos no
dia-a-dia. Ela é aquela que se revela quando em nós se fizer silêncio. Não o
grande silêncio mas o perfeito silêncio. Talvez por isso Platão dizia que filosofar é aprender a morrer e a estar morto.
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