Mark Tobey - World (1959)
Veio ter comigo outra ideia: o que é preciso investigar.
O mundo como grande texto enigmático.
(Herberto Helder, Photomaton & Vox)
A ideia do mundo como um texto enigmático, referida por Herberto Helder, merece que se pense nela. O maior dos equívocos seria supor que um qualquer empreendimento científico nos poderia abrir o caminho para despedirmos o enigma em que o mundo, para nós, se constitui. Por muito que se esforce a ciência para elucidar o funcionamento das coisas, sejam os objectos naturais, as realidade humanas ou as relações sociais, o enigma mantém-se na sua integridade e na sua integralidade. O enigma do mundo não decresce pela descoberta da lei gravidade, das teorias da relatividade, da descodificação do ADN, da explicação das razões do comportamento humano. Um olhar atento pode mesmo afirmar o contrário. Quanto maior a luz que a ciência projecta sobre o mundo, mais enigmático este se torna. Se isto é assim com os textos científicos, ainda o é mais se considerarmos a opinião que se produz sobre os acontecimentos sociais e políticos. Este tipo de discurso - que também eu pratico - é radicalmente incapaz de deitar alguma luz sobre o que quer que seja. Fica pela superfície e nunca consegue sequer aflorar o enigma que se esconde numa acontecimento social ou numa conjuntura política. Nessas textualidades, falam os interesses e as paixões, mesmo que os textos se apresentem racionais. O enigma, porém, escapa-nos. Felizmente, pois devolve-nos à nossa realidade, também ela enigmática, de seres finitos e limitados. Resta a poesia, mas ela tem o condão de falar enigmaticamente sobre enigmas.
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