Heinz Hajek-Halke, Friedhof der Fische, 1939
A primeira vez que vi esta fotografia de Heinz Hajek-Halke, um dos grandes fotógrafos germânicos, não pensei nem em peixes nem em cemitérios. Ocorreu-me estar perante um ensaio - e a fotografia de Hajek-Halke pode ser vista no âmbito do ensaio -, um ensaio, dizia, sobre um projecto de arquitectura futurista. Como em muitos projectos futuristas, haveria nele a sombra ameaçadora e mortal de uma distopia. Quando descubro o título, Cemitério de peixes, não abandono a percepção de uma arquitectura distópica e, por inferência, a própria distopia. A conexão entre cemitério e arquitectura torna patente que toda a distopia é a construção de um espaço onde a vida está submetida às estruturas da morte e voltada para a morte. Não dessa morte que faz parte da vida, mas de uma morte que, tem no seu núcleo central, a eliminação da vida. Uma morte eterna. Não por acaso, os regimes políticos nascidos de distopias fizeram da morte não apenas um instrumento mas um fim. A distopia é, deste modo, uma anunciação e uma celebração da morte. As grandes cidades são enorme cemitérios.
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