A minha crónica no Jornal Torrejano.
Aquando da formação do actual governo, não faltaram maus
agoiros sobre o descalabro da economia, o descontrolo do défice e a desmedida
loucura da extrema-esquerda, isto é, do Bloco de Esquerda e do Partido
Comunista. Agora que, como resultado das tragédias provocadas pelos incêndios,
o governo enfrenta enormes dificuldades e abre o flanco à espada da oposição, é
interessante olhar para as profecias e para a realidade. As profecias, nem uma
se confirmou. A economia tem-se portado bem, o desemprego tem vindo a diminuir,
o défice está a ser controlado. Também se descobriu que a extrema-esquerda é
bastante moderada e responsável e, na prática, tem contribuído para os bons
resultados da governação e para a boa imagem do país lá fora.
No entanto, estava sob os nossos olhos o principal problema,
aquele que ninguém viu, que é a causa principal das actuais dificuldades de
António Costa e motivo de arrufos com o Presidente da República. Esse problema
chama-se Partido Socialista, o velho PS. António Costa, em desespero de causa,
sua e do partido, teve um golpe de génio, ao fazer o acordo em que se funda o
seu governo. No entanto, o seu Partido Socialista não deixou de ser o velho PS,
o mesmo que gerou personagens como José Sócrates, Armando Vara e outras pessoas
que, apesar de não passarem pelas vicissitudes onde estes se enrolaram, não
gostaríamos que pertencessem ao círculo de amizades dos nossos filhos. E aquilo
a que me refiro não são a supostas condutas ilegais, mas à ligeireza com que se
tratam muitos assuntos públicos, à facilidade com que o aparelho partidário
toma conta das instituições para seu gáudio e proveito.
O velho PS não morreu quando Sócrates saiu, até porque ele
já existia antes de Sócrates ter chegado, como Guterres bem o sabia. E é esse velho
PS que tem grande responsabilidade no que pior se passa neste governo. Toda a
história dos incêndios deste Verão – embora a responsabilidade tenha de ser
partilhada por outras forças partidárias e sociais – é um retrato cruel, mas
fidedigno, desse velho establishment
partidário. Ligeireza, facilitação, falta de rigor, e uma visão do Estado como
lugar de emprego para os rapazes e as raparigas que começaram a vida a colar
cartazes. O PS não é o único, mas é ele que agora governa. O que falhou neste
Verão, não foi a economia – graças ao professor Centeno, que não pertence ao
velho PS –, não foram exigências desmedidas dos parceiros da maioria
parlamentar, que se mostraram sempre rigorosos e responsáveis. Foi mesmo o
velho PS. E o problema é que parece não haver outro.
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