Marc Chagall - Abraham and the Three Angels (1958-60)
O psicólogo Steven Pinker tem uma agenda de investigação cujos resultados tendem a contrariar as nossas percepções. Talvez tenha sido sempre assim, talvez a humanidade julgue que o presente é sempre pior e mais problemático que o passado. O presente nunca deixa de servivido sob o signo do apocalipse. Mesmo que isso não seja verdade para todas as épocas, parece ser uma evidência para aqueles que estão vivos hoje e que ainda viveram largo tempo no século passado. O século XX, com o seu cortejo de horrores, tem funcionado como o sinal de que a ideia de um progresso moral da humanidade é coisa destituída de sentido e já lançada para o lixo. No século XX aprendeu-se a dissociar, de forma sistemática, o progresso técnico-científico do progresso moral. O primeiro seria inegável, enquanto o segundo estava num fase de retrocesso. Os campos de concentração nazis e o gulag soviético surgiam como provas irrefutáveis desse retrocesso moral da humanidade. Um cepticismo antropológico tomou corpo e inundou as crenças de muitos, entre os quais me encontro.
Mas mais importante do que ver as nossas crenças corroboradas é, segundo a lição de Karl Popper, vê-las destruídas. É isso que faz Steven Pinker (ver aqui). Contra as nossas intuições sobre o Zeitgeist, ele afirma que o mundo não se está a desmoronar. Pelo contrário. Nunca o mundo foi tão pacífico como o é hoje. Nunca os homens se mataram menos do que hoje em dia. A análise empírica que Pinker faz em Os Anjos Bons da Nossa Natureza torna patente, ao longo da História, um declínio contínuo da violência. Este declínio contínuo da violência pode não ser uma prova evidente da existência de um progresso moral da humanidade, para falar à maneira de Kant, mas é um sintoma forte desse progresso. Por falar em Kant, o mais importante filósofo do Iluminismo, Steven Pinker prepara-se para lançar um novo livro, em cujo título, Enlightment Now: The Case for Reason, Humanism and Progress, ressoa, quase palavra a palavra, a voz do filósofo de Königsberg. Talvez o cepticismo antropológico esteja errado e as esperanças do século das Luzes não tenham sido em vão. Esperemos.
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