Tornou-se um hábito nacional a inexistência de um candidato
forte que se oponha à reeleição dos Presidentes da República em exercício. A
única excepção é a de 1980 em que Ramalho Eanes enfrentou Soares Carneiro. Nem
a candidatura de Manuel Alegre contra Cavaco Silva, aquando da reeleição deste,
pode ser considerada como uma aposta forte do centro-esquerda na corrida a
Belém. Na prática, o que se passa em Portugal é que um Presidente é eleito por
10 anos.
Se exceptuarmos o caso de Ramalho Eanes, que foi reeleito
num tempo em que a democracia portuguesa ainda procurava encontrar o seu
caminho, os outros presidentes – Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e
Marcelo Rebelo de Sousa – esforçaram-se por liquidar, durante o primeiro
mandato, a possibilidade de emergir um concorrente sério que lhe pusesse em
causa a reeleição. Todavia isto não se deve apenas ao talento político daqueles
que ocupam o palácio de Belém, mas é potenciado pelo cálculo e cobardia
política do centro.
Do centro-direita, como no caso das reeleições de Mário
Soares e de Jorge Sampaio. Do centro-esquerda, como no caso da reeleição de
Cavaco Silva. Os partidos no poder mesmo que não simpatizem com a personagem
política que ocupa a Presidência, evitam ser confrontados com uma ampla derrota
eleitoral. Pensam que lhes será mais favorável fingir que estão deslumbrados
com o exercício político do Presidente. Por norma, essa ficção tem um preço que
o Presidente reeleito não deixará de cobrar. A questão, todavia, ultrapassa o
jogo partidário e põem causa a própria democracia.
É inadmissível que de dez em dez anos uma parte perca por
falta de comparência, que não ofereça uma alternativa credível ao ocupante de
Belém, mesmo correndo o risco de uma derrota severa. É inadmissível que parte
significativa do eleitorado – ora de direita, ora de esquerda – não se sinta
confortável com as escolhas eleitorais que lhe são apresentadas. Isso não dá
saúde à democracia e permite que fenómenos marginais ganhem terreno nas
presidenciais para se afirmarem na sociedade.
António Costa e os socialistas podem ter imaginado muitos
cenários favoráveis para lidar com um Marcelo Rebelo de Sousa de mãos livres.
Isso não os exime, caso o apoiem ou caso não exista no centro-esquerda uma
alternativa séria, da responsabilidade de contribuírem para a degradação da
democracia e da própria Presidência da República. A democracia faz-se de
alternativas fortes e de disputa eleitoral. Não de cálculos e conveniências
partidárias sobre o que é melhor para quem está no governo.
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