sábado, 13 de junho de 2020

Erguer e derrubar estátuas

Giorgio Chirico, Sol naciente sobre la plaza, 1971

Quando se tem uma idade já considerável é mais difícil embarcar no discurso de que derrubar estátuas é um atentado contra a História. Construir e derrubar estátuas fazem parte da dança da História, de uma dança que enquanto existirem seres humanos não terá fim. O que irrita aqueles que se irritam com o derrube de estátuas não é que se profane a História mas que se esteja a fazer a História, a servir a História, será mais preciso. Os que hoje se irritam com o derrube de estátuas de um escravocrata aplaudiram a queda das estátuas que celebravam os heróis do comunismo. Aquilo que os derrubadores actuais não vêem é que eles não são em nada diferentes daqueles que erguem estátuas. Todos eles simples marionetas de uma realidade que lhes foge do controlo, de uma divindade cujos humores e decretos escapam aos desígnios humanos. Não há estátua que não seja ominosa para alguém. Não há estátua que não seja prova de glória para alguém. O que hoje a História decreta como digno de glória, será amanhã apontado por essa mesma História como merecedor de repulsa. Não é que os valores que presidem aos diferentes erguer e derrubar de estátuas se equivalham moralmente. Não equivalem, mas seria um equívoco pensar que certos derrubes ou certos ergueres de estátuas indiquem o lugar para onde a História corre. Uma coisa que se aprende com o tempo é que História não tem um destino marcado mesmo moral para onde se dirigir. Como o espírito, ela sopra para onde lhe apetece, volúvel, caprichosa, fazendo das paixões humanas o instrumento da sua diversão.

4 comentários:

  1. São assim os contrastes da vida. Hoje sol, amanhã chuva. Hoje agrada, amanhã repulsa. Sempre assim foi, é, e sempre assim será

    Cumprimentos poéticos.
    Bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

      Cumprimentos e bom fim-de-semana

      Eliminar
  2. O duplo padrão moral também na estatuária.

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Talvez a duplicidade seja a norma e contra isso pouco haja a fazer, por mais que se procure um padrão universal.

      Abraço

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.