segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Cadernos do esquecimento 48 Ir ao cinema

Francesc Català-Roca, Sesión nocturna, 1950
Não é que as pessoas, nas grandes cidades, não frequentem sessões da noite ou da tarde de cinema. Quem ainda vai às salas fá-lo. Na província, na pequena província onde existia sala de cinema, as sessões eram, em outros tempos, todas elas nocturnas, com excepção da sessão de domingo à tarde. A ida ao cinema, tinha nesses dias, um carácter ritual, como se se estivesse a instituir uma tradição. Uma impossibilidade, pois o cinema é um acontecimento essencialmente moderno, sujeito aos imperativos da rápida alteração de comportamentos, submetidos ao ritmos bipolar da inovação e da obsolescência. As coisas depressa passam de moda, que é uma forma de ficarem obsoletas ainda antes de o estarem realmente. Os rituais ligados ao cinema, ao contrário dos dias de hoje, acordavam-se, com algum rigor, à estratificação social existente. O primeiro balcão, a primeira plateia, o segundo balcão, a segundo plateia, todas essas compartimentações se acordavam com uma magreza geral de rendimentos, e frequentar um primeiro balcão era uma forma de diferenciação social em comunidades relativamente pequenas, ciosamente guardada por quem estava no topo da escala. Hoje, as salas democratizaram-se. Nos estúdios, reina uma ordem democrática, onde impera a igualdade, pois seria risível encontrar diferenciação social no simples acto de ir ver um filme.

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