Tenho um amigo, o Alberto, professor há anos, que decidiu emigrar para um país, a Gaibiria, que parecia necessitar de professores de Matemática. Ali, fala-se francês e ele domina muito bem a língua. Quando chegou, começou a concorrer às escolas que anunciavam a necessidade de professores de Matemática. Em Gaibiria, os docentes são contratados pelas escolas. Estas dependem de algum modo das mairies (câmaras), as quais têm - de facto, mas não de direito – peso significativo na sua vida e até nas escolhas das chefias principais e intermédias. Em Gaibiria impera o lema de que as escolas têm a liberdade de escolha dos seus professores e, de acordo com o seu projecto, escolhem os melhores. Tudo isto entusiasmou o Alberto.
Há dias, estive com ele. Estava defraudado com a Gaibiria, mas esperançado em Portugal. Em Gaibiria, disse-me, o Ministério da Educação, há uns anos, transferiu para as escolas o recrutamento de docentes. O que se passa é extraordinário. As coisas são feitas de tal modo que se contrata sempre alguém amigo ou familiar da direcção da escola ou por recomendação discreta do maire. Apesar de ter tentado em múltiplos sítios e de possuir mais experiência e qualificações do que a generalidade dos concorrentes, nunca consegui um lugar. Desesperei – disse-me. O que me diziam os gaibirianos, continuou, não me animava. No país, garantiam, o nepotismo e o amiguismo são cultura nacional. Um professor reformado explicou-me que o Ministério da Educação da Gaibiria entregara a contratação dos professores às escolas para evitar problemas com impacto nacional, mas, fundamentalmente, para satisfazer os maires, para lhes dar possibilidade de alargarem a sua área de influência. Não compreendi, acrescentou.
Depois, o Alberto confidenciou-me que estava muito entusiasmado com o retorno a Portugal, neste momento em que o Ministério da Educação se prepara para tomar medidas idênticas às da Gaibiria. Estava entusiasmado porque Portugal é completamente diferente. Aqui não há nepotismo, nem se colocam amigos no aparelho de Estado. No nosso país, disse quase eufórico, temos uma outra cultura. Todos os concursos públicos são completamente transparentes e escolhem-se sempre e só os melhores. Os municípios portugueses são exemplares, parecem nórdicos, quando se trata de escolher com isenção. As escolas serão iguais. Os alunos vão ter os melhores professores e estes terão um lugar devido ao seu valor. E o Alberto acrescentou: não somos a Gaibiria. Com o currículo que tenho, disse, vou encontrar, facilmente, colocação. Não pude deixar de concordar com o meu amigo.
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